A VENDEDORA DE SONHOS

A vendedora de sonhos

Alice era uma mulher corajosa. Tinha trinta e seis anos, pagava aluguel e trabalhava duramente para sustentar cinco filhos. Ela era apenas mãe de dois a Luisa que estava com vinte anos e o Rafael com dezoito. Os outros três eram filhos/netos, pois a Luisa tivera trigêmeos aos dezesseis. A luta era dura, a vida muito difícil, o principal era convencer os filhos a ajuda-la. Às vezes ela revoltava-se e pensava no silencio de sua cama de casal, que tudo poderia ser diferente. Vicente, o marido, a trocara por Deus, tão convencido que jejuar era a coisa mais importante para receber Deus, caiu doente e morreu em pouco tempo, deixando-a viúva com tamanha responsabilidade.

Outras vezes quando a situação financeira permitia, ela ia com a filharada para algum passeio.Num desses passeios o local escolhido foi a ilha de Paquetá. Eles passaram o dia felizes, juntos, como se estivessem fora da realidade. Alice descansava debaixo de uma árvore, com a brisa marinha batendo em seu corpo, estava completamente relaxada e adormeceu. Saiu da dimensão em que estava e encontrou-se com Vicente. Ele estava diferente, forte, corado e viril. Só ao abraça-lo ela sentiu todo o desejo que ele tinha de tê-la como antes.

Acordou envergonhada ouvindo seus próprios gemidos, Luísa deu uma piscada e sorriu, ela ajeitou as mechas de cabelo que estavam grudadas no rosto e levantou-se, dizendo para a filha: - Sonhei um sonho tão bom, ah seu eu soubesse, tinha que vir de tão longe, pegar três ônibus uma travessia de barca para encontrar teu pai aqui nesta praia, ah!...

Antes do entardecer já estavam a caminho de casa, e Alice ia pensando no que ia fazer dali em diante. Com Vicente a vida já era dura, mas ele a ajudava. Ela estava sempre cansada que jamais pode tê-lo como no sonho da praia. Se soubesse como poderia mudar sua vida, iria até o fim do inferno, se preciso fosse para não viver presa no eterno pesadelo de pagar aluguel e sustentar a família. Começou naquele mesmo dia ao chegar a casa. Não fez o que sempre fazia ir correndo para o fogão. Não, deu um basta definitivo. Primeiro foi tomar banho, lavar o longo cabelo, colocar uma roupa leve, para depois tratar do jantar. Luísa estava desesperada, os meninos estavam brigando, a panela de arroz começava a agarrar no fundo, o Rafael já tinha dado uns tantos gritos, para demonstrar poder masculino, enfim o drama diário continuava. Ela fingiu que não percebeu, comeu duas bananas rapidamente para enganar a fome e foi até a casa de sua amiga e vizinha a Joana. Ficou de papo por lá até as tantas. No dia seguinte, saiu cedo com a Joana para as compras. Não demorou muito. Era um domingo ensolarado. Não se preocupou em preparar almoço nem nada. A Luísa ficou desesperada, pois detestava pilotar fogão e corria sempre que podia. Desta vez não tinha jeito, os gêmeos já tinham quatro anos e não podia mais enganá-los com biscoitos ou pão, eles queriam mesmo era arroz, feijão e tudo o que fosse suficiente para abastecer aquelas boquinhas lindinhas e gulosas.

A rotina modificou-se totalmente, Alice fez os primeiros sonhos de sua vida dar certo. Eles foram tão fundamentais em seu progresso, que ela ficou conhecida mais tarde como a vendedora de sonhos, pois foi fazendo sonhos caseiros e dando para o filho vender no campo de futebol e mais tarde seus filhos/netos trigêmeos que ela conseguiu o império que tem hoje. O mais inusitado foi que ela também se realizou no amor, conheceu Alberto um padeiro viúvo, que não fazia jejum de jeito nenhum.

Alice e Alberto têm sido felizes, e quando a preguiça começa a tomar conta dos filhos eles já sabem como fazer para tudo mudar, começam a impor limites e a mostrar-lhes o que devem fazer por si mesmos e não jogar a responsabilidade sob os outros.