O ginecologista

Era já a quinta vez que ela olhava-se no espelho e resolveu trocar a blusa que não combinava com os sapatos, que por sua vez nada tinham a ver com os brincos e o cinto.

Na pilha recém formada no canto do chão, ela jogou mais algumas peças.Aquilo começava a ficar desesperador: pouco tempo, muita roupa a provar e nada ficava bom!

Gritou "que ódio" já com as mãos na cara, meio que arranhando-se mesmo sem ter unhas.

O gato que ainda dormitava, ergueu suas orelhas para o grunhido feio que ela fez.

"Argh!!! Desisto, desisto, não vou mais!"

Deitou na cama, se embrulhou em todas as cobertas, e nua como estava, pôde sentir seu próprio cheiro!É certo que ela quase chorava de raiva, aquele remorso profundo de ter um dia dado com um pudim, com aquela pizza quatro queijos, ou pior, com uma feijoada gorda, com direito a muitas sobremesas.

Mas, escondida dentre as cobertas ela pôde sentir seu próprio cheiro, ah, isso sim ela pôde, e foi esquecendo dos temperos e comidas que, supostamente, a fizeram engordar e ficar assim, tão sozinha. Um banho tão caprichado; pensara ela em detalhes, tudo, esfoliação da pele,nenhum pêlo indesejado pelo caminho -importantes caminhos.

E pelo esforço feito, em um instante levantou-se, não podia ficar ali deitada uma vez que seu corpo exalava tanto perfume, e seus poros necessitavam do frescor de permanecer nua, sua pele estava macia, ela carecia de toques, muitos toques.

Meio sem graça, como se alguém a olhasse, andou pelo quarto e parou em frente ao espelho. De pé, ergueu uma perna e repousou o pé sobre a cama, de modo que pudesse ver o cor-de-rosa morno de si, assim entreaberto.

Sentou na beiradinha da cama -estava ansiosa- olhou para os pés, que estavam com os dedos dobrados, como os de bailarina principiante, olhou as panturrilha, até que bem rígidas, ah, e de repente, seus olhos passaram depressa pelas coxas e suas pernas abriram, primeiro lentamente, e depois, ela tentava com que abrissem mais e mais.

A imagem que via, há tempos ninguém, -e nem mesmo ela- via.

Ela quis brincar, se excitou, gostava do que via, sentia-se bonita, amada, mesmo que por si mesma, mas de alguma forma estava sendo amada, e pelos seus dedos, pêlos e cabelos, ela se deliciava em toques sutis e o espelho era imprescindível, afinal estava sendo retribuída, mas ocorreu um erro, maldito erro, ela olhou nos olhos, e os olhos nos próprios olhos trazem o fim de certas coisas, como essas, e ela assustou-se com seus olhos mareados, entreabertos, e sentiu vergonha de si. Resolveu se resguardar.

Escolheu uma roupa básica, um decote um pouco provocante, é certo, mas estava sexy, sentia-se bem, um pouco incomodada pela ousadia que a invadia, mas o perfume ainda lhe agradava os pensamentos. Saiu de casa.

O gato ronronou qualquer absurdo. Ele foi cúmplice disso tudo, e no fundo gostou um bocado.

Acontece que depois de 15 minutos ela foi dar em um consultório médico. Era uma manhã fresca, típica de primavera tropical. Qualquer música que tocasse no rádio ela gostava, estava com aquele frio na barriga, aquela sensação de puberdade enrustida que uma hora tem que explodir.

No consultório, enquanto esperava, um pouco encabulada pois não queria esperar, fingia muito bem ler uma revista, sendo que tudo que fazia era fantasiar os modelos, sejam homens ou mulheres, em sua cama, porque sendo qualquer outro e não ela mesma, já estaria tão bom...

Quando a recepcionista a chamou ela não hesitou em levantar rapidamente e olhar para os outros que estavam sentados para ver se alguém reparava nela, no andar, nos cabelos soltos e ainda molhados, na bunda, quem sabe...

Entrou no consultório, e seu coração pequeno, sim, era pequeno e assustado como o de uma pomba, pulou quase pela boca. Quis parecer elegante, pra depois sexy, pra depois fatal.

Quando se deu conta daquilo parecer meio doente, ela já não mais se importava com o que se parecem as coisas.

- Doutor, eu estou com algumas complicações.

- Entendo, quais tipos de complicações?

- Bom, primeiramente eu sinto um grande calor na região pélvica, que vai subindo, subindo, subindo, e chega aqui – e agarrou os seios- mas depois dói, ai ai, doutor, dói muito!

Com a expressão de dó e um bico mui natural, o médico meio sem jeito, disse:

- Bem, vamos examinar. Pode se despir ali.

Ele foi meio intrigado, pensando em situações parecidas em que passara, mas, achou a paciente bem ingênua, inofensiva.

-Meu Deus! Doutor? Desculpe, mas você pode me ajudar, acho que o zíper de minha saia enroscou na calcinha- e ele deu com ela nua na parte de cima, de costas a ele, com a saia levantada, enroscada na calcinha, a propósito, bem pequena.

Encabulado, ele tentou ajudar. Deslizou o zíper, ajustou a saia, puxou tudo pra baixo, saia e calcinha, mais ou menos à altura do joelho, onde a roupa desceu sozinha. Ela abaixou, pegou a roupa do chão, e o médico gostou do que viu, mas tentou desviar os olhares, ética, é claro! A ética acima de tudo, acima dos prazeres da carne, das bundas empinadas e xoxotas bonitas.

Deitada, ele pediu:

- Abra bem as pernas.

Ela adorou, como não? E sentia-se tão bem acompanhada. E a cada toque ela remexia-se, ele percebia, mas nada falava. Entrando dedos com luvas, entranha por entranha, estranha sensação, ela sentia e gemia, sim, ela já gemia baixinho e quase pedia mais.

-Hunnn, não vejo nada anormal.

-Talvez porque não tenha ido tão fundo, veja mais fundo.Por favor, veja mais, se você tocar mais poderá sentir- ela quase suplicava, olhos fechados, expressão tão modificada, louca, ela estava louca.

-Sim, sim, vejo algo.

-O que? O que vê?

-Deixe-me chegar mais perto.

E ele encostou o queixo na região entre o ânus e a vagina, e ela pôde sentir a respiração dele, aquele rosto tão rente, e aquela respiração, aquele calor que não fosses seus próprios dedos, num sobressalto irracional de prazer e medo fez com os lábios do doutor, sem máscara alguma, encostasse nela. Ele transpirou, ele sentiu o cheiro, ele não agüentou e ele caiu de boca, e ela gritou, ela gemeu gostoso, ela segurou a cabeça dele forte, e ela gozou, gozou como nunca.

Laís Mussarra
Enviado por Laís Mussarra em 16/01/2007
Reeditado em 03/05/2007
Código do texto: T348946