O Cortejo

Já era final de tarde; a rapaziada bebia e cantava, nada parecia atrapalhar aquela algazarra. A gorda de saia justa e bigode gritava e os meninos chutando lata a nada se preocupavam. O vigário tomando cana e o coveiro com o saco na mão, enquanto um gato de rabo fino não tardava em ser churrasco. Debaixo da mesa o bêbado cutuca a moça recatada de alças e pernas finas, o pai ao lado com um bigode aveludado, por sua vez, marcava com a vizinha fofoqueira uma noitada de carteado. O cortejo se inicia; o coroinha levanta o vigário que gritava aos quatro ventos a honra do defunto. A viúva geme, coitada; não sabia se ria ou se chorava ou se esganava o infeliz, aparecera a outra com três meninos.

- E num é que o menor é a cara do safado! dizia ela em prantos assoando o nariz avermelhado.

O primo pederasta com a coroa de flores, este casado e a mulher o traia com o leiteiro; não faltava leite para as crianças. Até credor tinha, foram pra ver se era verdade, nem no meu enterro deram um desconto. A lápide dizia: "Aqui jaz um homem honrado". E o coveiro se apressa, começa a cair uns pingos de chuva, o tempo agora estava fechado; o vigário grita: "Que seja lavada a honra deste homem e que a chuva traga o conforto da família". Toma mais uma dose em seguida. A secretária ri parecia está contente, com um ar de "já vai tarde". A chuva desaba parece que com um atraso de um ano. Todo mundo corre; o vigário com a cachaça debaixo do braço e a multidão atrás gritando, e eu como não podia correr fiquei lá pegando chuva; finamente um sossego.

Geison Correia
Enviado por Geison Correia em 19/01/2007
Reeditado em 19/01/2007
Código do texto: T352685