OUTRA CATEGORIA

Ele chega na sala com as suas mãozinhas cadavéricas, seus braços ressequidos e seu nariz fino e pontiagudo, com um fiozinho de catarro escorrendo pela narina. O suor escorre pelo seu rosto em gotículas nervosas, suas mãos encharcadas de um suor gélido e febril.

A garota sentada na primeira cadeira fuzila-o com um olhar. Dá pra sentir o desprezo irradiando-se de cada olhar e o tremendo asco que a sua presença causa.

Ele se dirige pra o quadro que, embora seja branco, não consegue minimizar nem ofuscar o negro da sua alma.

Professor de ética, mesmo num cursinho pago, isso não servia pra aumentar a sua baixo-estima, pois a sala que ficava lotada nas aulas de português e matemática ficava quase sempre vazia quando ele entrava.

Os olhares, as expressões de tédio, o ódio cuspido e vomitado por cada rosto, tudo aquilo era uma pressão grande demais para ele.

Rufino. Até o seu nome tinha uma certa conotação ridícula. "Ele é mesmo Mufino!" "Meus, deus como esse homem é mirrado! Franzino! Desnutrido! Será que ele tem AIDS?" Era obrigado a escutar esse tipo de comentário pelos corredores do cursinho.

Naquele dia Rufino estava um pouco mais trêmulo que de costume, e o suor que pingava-lhe do rosto insistentemente, já fazia uma poça no chão da sala. Ele caminhava de um lado para o outro, falando o que todo mundo já sabia, dando sua aula batida de anos e anos de experiência. Foi quando sentiu o primeiro rebuliço no seu estômago ulcerado. Começou lento e depois foi aumentando, um gemido, um som gutural de algo que parecia vivo e queria saltar do seus intestinos!

A garota da primeira fila olhou em volta fazendo uma careta de escárnio e todos começaram a rir. Meu Deus, como ela era gostosa! Rufino já havia reparado nela inúmeras vezes, mas sabia do desprezo que ela nutria por ele. Via os seus olhares para o professor de direito do consumidor! A sorte, os prazeres, as coisas boas da vida não eram para pessoas como ele. Encontrava-se em outra categoria e sabia muito bem disso. Faz tempo que não se envolvia com uma mulher. Nunca tinha se envolvido com uma mulher bonita.

Quando o primeiro jorro veio não pensou duas vezes, abriu a boca num gesto maternal, como uma mãe que estivesse prestes a dar à luz. Coberta de vômito ela até que não era tão inacessível assim! Ele poderia até tocá-la agora, sentir sua pele, a respiração, seu suor...

Abraçou-a e começou a lamber o vômito que escorria do seu corpo em camadas grossas e viscosas! Limpou primeiramente o rosto, depois foi descendo pelos braços, até chegar aos seios, rasgando sua blusa e mamando em suas belas tetas!

Teve que ser contido pelos alunos, mas ainda trazia consigo uma porção de vômito embebida no perfume e na pele daquela bela garota. Foi a fatia mais deliciosa e a que demorou mais tempo a roçar-lhe prazerosamente o céu da boca.