NUNCA É TARDE! - Capítulo XIX

CARO(A) LEITOR(A), ESTE CONTO É ESCRITO EM CAPÍTULOS. PARA ENTENDER A HISTÓRIA SUGIRO A LEITURA DOS DEZOITO CAPÍTULOS ANTERIORES. UM ABRAÇO. MARIA LÚCIA.

Fico a lembrar-me de José Onório, se ainda estivesse vivo, ficaria muito feliz em vê-los encaminhados na vida, só viu o casamento de Juliano.

- Dona Francisca, a senhora nunca me contou como o marido da senhora morreu.

- É porque eu não gosto muito de lembrar-me do passado, quando ele é triste. É bom a gente só lembrar do que é bom. - fiquei um longo tempo em silêncio, depois recomecei.

- Coitado! Era tão bom, amável com todos. As pessoas dizem que quando morrem as pessoas ficam boas, mas José Onório era uma pessoa excepcional, boníssima, incapaz de fazer qualquer coisa para prejudicar alguém, mas como todos ficam aqui até cumprirem sua missão, José Onório cumpriu a sua e Deus o chamou para morar com Ele. José Onório foi vítima de um câncer que o foi comendo, comendo, até ficar só "o coro e o osso", sofreu muito, dores horríveis, foram dez meses que não sei como passamos. Ele era tão generoso, que mesmo no alge da doença ainda dava lições de vida. Lembro-me que um dia logo após uma crise horrível onde todos nós pensávamos que ia acabar naquele momento, ele ficou por uns instantes olhando para nós e disse: "Francisca, meus filhos queridos, há um tempo para tudo, como está escrito na Bíblia, no livro de Eclesiastes, capítulo três: Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: "Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de aborrecer; tempo de guerra, e tempo de paz." Como há tempo para tudo, chegou o meu tempo que partirei para a eternidade e vocês continuarão até chegar o tempo de cada um. Meus filhos, cuidem de sua mãe porque ela é uma jóia rara que dever ser muito bem cuidada. Deus os abençoe...

Daquele dia em diante, José Onório ficou bom como se nunca tivesse adoecido. Ficou livre das dores, não tinha mais crises horríveis de dores intensas. Nós agradecíamos a Deus como se fosse um presente que Ele tinha nos concedido. José Onório era um homem alegre, brincalhão, calmo como ele nunca vi outro em toda a minha vida. Ficou naqula alegria por três dias, eu pensava que havia acontecido um milagre.

No dia 28 de outubro de 1976, amanheceu um dia muito bonito, a primavera floria todo o jardim. José Onório teve vontade de chegar à janela para ver as flores. Estava muito fraco, mal conseguia andar, mesmo com a minha ajuda.

- Olha, Francisca, como está bonito o jardim. Ah! se eu pudesse descer para tocar as flores, você já reparou a maciez das pétalas das rosas? É como face de criança. Ai! Deita-me, eu estou...

José Onório desmaiou nos meus braços, ele estava tão magrinho que consegui levá-lo para cama sozinha. Chamei a empregada, reuniu todos os filhos, o médico veio imediatamente. Infelizmente, chegou a sua hora...

- Dona Francisca, eu sinto muito, mas ele está com Deus!

Janete caiu em cima do pai abraçando-o, chorando, gritando perguntando porque ele havia os deixado. Foi a maior tristeza, Marina, você não pode nem imaginar como foi triste. Eu nunca amei Jósé Onório, aquele amor doido, mas gostava muito dele. Durante os vinte e três anos que estivemos casados, nunca tivemos uma discussão mais forte, sempre quando eu começava ele me distraia e eu acabava deixando a briga de lado, nunca falou uma só palavra que me aborrecesse. Graças a Deus meus filhos são muito parecidos com ele, principalmente Juliano, às vezes ele fala as mesmas palavras do pai.

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 23/01/2007
Código do texto: T356159