Com os dois olhos em um mesmo canto...

...levanto e os olhos no mesmo lugar; sento e com as duas mãos na cabeça bocejo pro dia que se inicia. Os olhos no mesmo lugar; meu corpo ainda estático, rígido como a imagem que vejo. Sem pestanejar e a respiração quase inexistente, meu rosto desfigurado em sonho; A porta à minha esquerda é forçada, a tranca faz seu papel, pelo contrário o sujeito insiste, rodeia, olha e uiva. A janela também, triunfa a tranca novamente. Agora de pé o sujeito pensativo; a barba pra fazer e a excitação lhe come o tino. Me levanto, agora com uma altivez incompreendida; como o dono dos porcos em bater o ponto; e de pijama e tudo, listrado e encardido como a sua honra. O cara senta num batente em frente; agora espera minha saída; um bufão de paletó e bico fino; a cara de poucos amigos. Não sabe se estou aqui, pelo menos não tem certeza; avisto o homem pela fresta da janela. Sento novamente; com a cara em desespero, e a respiração agora em cavalgada; sente medo, sonha, espera. Os olhos no mesmo lugar; levanto e os olhos fixos no mesmo lugar. A morte me espera, na porta de minha casa o meu assassino com sua ira aumentando de tempo em tempo. Meus olhos ainda fixos; a excitação de uma desgraça; mesmo que minha, minha desgraça, meu assassinato. Levanto, e em direção a porta; como se a rua minha liberdade; de peito aberto encaro meu carrasco; Ele agora com os olhos fixos em um canto. Dou mais um passo e, seus olhos continuam a não me olhar; como se me visse de outro ângulo, como se estudasse o melhor golpe, o ultimato a minha teimosia. E sem pestanejar, e nem me olhar dispara contra meu peito o primeiro tiro, de uma serie que me perfurará a carne, destroçará meus ossos, meus órgãos, meu rosto. A cada projéctil arremessado pela boca de fogo eu me sentia mais próximo ao meu carrasco. O segundo tiro me atinge na altura do abdome, causando o estrago desejado; dilacerando minhas vísceras e contaminando meu sangue que já encharcava a calçada à minha volta; um silêncio confortante me invade; ainda cambaleando e agora com a visão já escura recebo o ultimo disparo me acertando as costas; caio de joelhos e uma eternidade enquanto em meu delírio encontro-o ainda com a arma engatilhada. Depois de descarregada sua fúria, percebo uma certa emoção, esboçava um leve sorriso; o prazer do trabalho realizado. Com os olhos em um mesmo canto; eu, com os dois olhos fixos na mesma direção.

Geison Correia
Enviado por Geison Correia em 24/01/2007
Reeditado em 24/01/2007
Código do texto: T357506