Um Dia

Um dia. Acordamos e ela não está lá. Quem? Qualquer pessoa que nos afete. Deixamos de saber sobre ela e somos informados por outros a respeito dessa que não mais sabemos. Tantas vezes se preocupando conosco e agora nóss que vamos ao seu auxílio. Andando por corredores frios, encarando técnicos doados a doença. A face, antes vívida, agora não passa de algo com pouca expressão, repleta de tubos, com fios pelo corpo, além de agulhas que adentram a pele, criando uma criatura artificial. Sem sorriso, apenas a amarga dor, estampada em um rosto que é a prévia da morte.

Não temos maais uma boca que come e fala, mas que apenas serve de suporte a alguma ferramenta que conduz algo para dentro de um corpo que não busca mais por si, aquilo que precisa fora de si. Temos aquela pessoa parada, enquanto noss movemos, junto com outros moventes indiferentes que tratam a situação como rotina empregatícia. Essa coisa que antes era humana, agora, por mais que seja, parece que perde a sua vitalidade, demonstrando apenas a face daquilo que procuramos negar. Os leitos são parecidos, um amontoado de corpos esperando, até que o dia da espera acaba.

Prolongamos ao máximo, ou pelo menos torcemos ue prolongue, por mais triste que seja. Nos preocupamos apenas com o que sentimos, a despedida é diada, por mais que já esteja concretizada, já que o corpo não mais nos responde, apenas está ali, mas sem interagir. São os aparelhos que interagem engtre si e fazem do corpo um veículo, que para nós provoca a falsa impressão de estar operante, mas não passa de operado. Antes uma ópera sem emoção, os personagens estão todos ali, mas falta a música da vida.

Olhamos para o quarto sem janelas e desejamos algo que possa transpassá-lo. Só que a porta é o portal que dá acesso ao fora, mas parece tão limitada, ainda mais sendo vista de dentro. As cortinas que separam os habitantes, parecem véus de infernos ditintos, onde todos se mituram em um mundo de dor. Os olhares não revelam mais a alma que todos dizem encontrar no brilho, mas se fazem portas fechadas, inacessíveis a quem quer que seja, parecem seladas ainda em vida, um prenúncio da morte.

Percebemos que é possível morrer estando vivos, ou que a vida pode se fazer morta dentro de determinadas perspectivas. O corpo continua agindo, mas sem aquilo que o torna ser vivo para os outros que com ele coabitam. Não passa de algo distante, apesar de tão próximo, como uma pedra, um graveto, mesmo estando ao alcance das mãos, não nos transmite mais aquele sentimento e sabemos que logo nem mais a matéria resistirá ao tempo e a própra visão evanescerá.