O CACHORRO QUE NÃO FALAVA FRANCÊS

Era o começo do ano letivo, no chamado antigo ginásio e, na primeira aula de Francês, a professora comunicou que, a partir das próximas aulas, ela só iria falar em francês e não iria traduzir nada.

Em meio aos olhares desconfiados dos alunos, ela prosseguiu dizendo que, para se aprender uma nova língua, era necessário treinar o ouvido. Assim sendo, cumpriu o que havia dito e, nas aulas seguintes, era só puro e simplesmente francês.

A aula dela constava de painéis com figuras e letras, cuidadosamente pendurados no quadro negro. A mestra utilizava-se de uma pequena varinha, a qual ela apontava para as figuras e depois ia dizendo “repete s'il vous plait”, o que se presumia que era para repetir o que ela acabava de dizer.

Num certo dia, no meio daquelas inúmeras repetições em uníssono, a aula foi interrompida por uma visita inesperada. Um cachorro muito do serelepe entrou na sala, sem mais nem menos, e começou a passear entre as carteiras, o que causou um certo alvoroço na classe. Muito prontamente, a professora, utilizando-se do seu complexo linguajar afrancesado, batia o pé e tentava expulsar o dito cujo.

Todos ficaram boquiabertos, pois a instrutora, apesar de nervosa pela intromissão repentina, não perdeu em nenhum momento o seu estimado "francês". Entretanto, o simpático visitante parecia não ter gostado do jeito pouco convencional e nada amigável no qual foi abordado, e logo começou a rosnar e a latir para a eloqüente professora.

Um dos alunos da classe, com muita presença de espírito, se levantou, num ato corajoso, para ajudá-la. E simplesmente disse: “Vem cá, Totó, vem, vem”. Foi, então, prontamente atendido pelo irritado intromissor, seguindo pacificamente em direção à porta, mas não sem antes dar uma última olhada para nossa abalada professora.

O mesmo aluno, tentando acalmar os ânimos, tentou dar uma explicação viável ao acontecido, dizendo: “Sabe o que é professora, o cachorro é como a gente, não entende nada do que a senhora fala em francês, só o português!!”.

Imaginem a frustração dela diante daquela inocente confissão pública, em saber que, apesar dos ensinamentos dela, nínguem a entendia. Contudo, os meses se passaram e este fato não a abalou. Os alunos chegaram ao final do ano sem ouvir uma única palavra do querido idioma Português, mas com um pouquinho mais de Francês no seu vocabulário.

Infelizmente, nunca mais se ouviu falar daquela mestra, com sua didática pouco ortodoxa.

Ah! E o tal vira-lata também nunca mais apareceu !!! Talvez com receio de ter que dizer Merci Beaucoup!!