PÉ DE PORCA

- Oi Silas! Está se lembrando da nossa feijoada domingo que vem?

- Claro que estou, Joca! Será que o Marreco está? Ele é louco com isso!

- É bicho, que pena! Ele estava tão bem e foi adoecer logo agora. E o pior é que, se ele não comer, é capaz de aguar. Segundo ele, ninguém faz feijoada igual a você.

A turma de amigos era enorme. Tinha amizade ali que vinha desde o tempo do curso primário, das bolinhas de gude e dos cozinhadinhos. Volta e meia estavam todos juntos, sempre em torno de muitas garrafas de cerveja; uma hora na praia, outra hora no clube, na casa de um, de outro...

Quando Silas chegou em casa...

- Amor, minha irmã de Guaçuí tem médico, aqui em Vitória, segunda-feira e virá para passar o final de semana conosco. Que bom, né?

- Bom? Ela vai trazer periquito, papagaio, cachorro, o escambau e você acha bom? E a feijoada do Joca, como é que fica?

- Você está certo. Infelizmente Dedéia só anda em bando, mesmo.

- Droga! Queria tanto passar o domingo com os nossos amigos!

- Eu também, Silas, mas a gente faz um plano e Deus faz outro.

E domingo lá se foram eles para a praia, com o pensamento no clube.

A toyota foi cheia de carne, lingüiça, cerveja e o bando de Dedéia.

Às 14:00 horas, receberam um recado para buscarem o resto da feijoada e levar um pouco para o Marreco.

De uma hora para outra, armou um temporal e o céu escureceu. Eram trovões e relâmpagos que não acabavam mais e eles foram obrigados a levantar o acampamento mais cedo. Todos, salvo as crianças e os velhos, estavam “prá lá de Bagdá”, trocando as pernas de bêbados. Era raio caindo, menino chorando, neguinho tropeçando e velha rezando.

O panelão, com o resto do resto da feijoada, ficou por último. Silas o pegou, tampou-o com um pano de prato branquinho, colocou-o no chão do banco da frente e foi ajudar a sua mulher, que mal se aguentava em pé, a entrar no carro.

- Élida, tenha cuidado com a panela que está aí nos seus pés.

- Deixa comigo. - disse, fazendo sinal de positivo, com o dedo polegar.

Quando se aproximaram do prédio, avistaram Marreco em pé no portão, de pijama listrado, ansioso, esperando a deliciosa comida.

- Achei que não vinham mais. Quando me lembrava do velho ditado: “chuva lava trato”, gelava dos pés à cabeça. Silas, cadê aquele trem de doido?

- Está aqui. - e abriu a porta do carona.

- Minha Nossa!!! Não acredito!!! Não pode ser!!! Sou acostumado a comer feijoada com pé de porco, mas jamais com pé de porca.

Élida estava com os dois pés dentro do panelão.