Janela Indiscreta

 

 

Nas noites quentes de verão, ela costumava sentar-se com o marido no terraço e ali ficavam a conversar, tomando um suco, apreciando as estrelas ou a lua. Sua prima morava em frente, num sobrado, e também deixava as janelas abertas por causa do calor. Certa vez ela notou o vulto da prima lá em cima e estranhou. Parecia que estava sentada, mas não se mexia. Olhava a parede. Esperou um tempo e nada. O único movimento que a outra fazia era de vez em quando baixar a cabeça e logo voltava àquela posição esquisita. Sei lá, pensou, vai ver que ela está chateada, pensando na vida... Amanhã converso com ela. E foi dormir. No dia seguinte, ocupada com suas atividades, nem se lembrou mais. Só voltou a pensar no caso à noite, quando viu a mesma cena novamente. Então começou a se preocupar. Estaria a prima com problemas? Será que ela poderia ajudar?... Porém, não querendo parecer intrometida na vida da outra, achou melhor ficar quieta e esperar. Mas a curiosidade falou mais alto. Chegando a noite, ela ia correndo observar. Lá estava a prima a olhar a parede! Agora o caso está ficando sério, preciso falar com ela.

 

No dia seguinte, com o pretexto de tomar um cafezinho, lá foi ela sondar. Encontrou a prima bem disposta, alegre e falante. Rodou, rodou e nada da outra demonstrar qualquer aborrecimento que a estivesse preocupando ou alguma coisa fora do normal. Finalmente, não se aguentando mais, contou da sua espionagem. A prima caiu na gargalhada. Andava inspiradíssima ultimamente, passava horas e horas da noite a escrever poesias lá no seu escritório!