Medos da infância

Uns se escondiam embaixo da mesa,outros quase se mijavam,haviam aqueles que ficavam quase paralisados de pavor.Quem seria capaz de provocar tanto medo,tanto terror,tanto auê?O et de Varginha?A mula sem cabeça?A boitatá?O Saci Pererê?Não!Estes,até apavoraram algumas gerações,mas não é sobre eles que vou escrever.O responsável por tanto desespero era a velha patrola da prefeitura dirigida por seu Firmino,conhecido como Batata.

Vez que outra,a velha máquina surgia,soberana e imponente.Ia de um lado para o outro consertando as ruas que sofriam por causa das chuvas de inverno.

Ela era diferente de tudo que tinha surgido até então.Os caminhões eram os queridinhos da criançada.O sonho da cada guri era ter o seu.Enquanto não podiam ter um de verdade brincavam com caçambas de plástico ou com carretas de madeira.Alguns,mais humildes,se contentavam em pôr uma cordinha numa caixa de sabão em pó velha ou num litro de água sanitária e puxavam eles como se fossem os brutos mais possantes do universo.

Infelizmente,a patrola não teve a mesma sorte,não caiu no gosta da criançada.Pelo contrário.Possuía um corpo estranho.Era longa na frente e para piorar,tinha uma lâmina enorme que assustava a gurizada.Só o ronco de seu potente motor,que podia ser ouvido de longe,era suficiente para impor respeito.Certas mães,cansadas de tanta travessura,ameaçavam seus filhos e quase sempre usavam a patrola para assustar os mais saidinhos.A criançada sossegava,pois ninguém tinha coragem de enfrentà-la.

No inverno,todos os pequenos ficavam felizes,já que o monstro barulhento gostava de um tempo bem sequinho para passar sua velha lâmina sobre as estradas ainda mais velhas.Tão logo a estação fria fosse embora o perigo voltava.De tempos em tempos,alguns olhares infantis miravam o horizonte à espera do monstro barulhento.

O tempo passou.Seu Firmino aposentou-se.A velha patrola,que tanto desfilou de um lado para outro,num triste e assustador balé solitário,pelas ruas de chão batido,acabou num canto qualquer do pátio da prefeitura,imóvel,estéril.Ela que tanto assustou,acabou sendo devorada,pouco a pouco ,pela ferrugem.A máquina do medo virou uma vítima indefesa,frágil,incapaz de emitir um som sequer de dor ou agonia.Um paradoxo,para quem tinha no barulho sua marca registrada.

E a criançada?Bem.Todos cresceram e superaram seus medos.As novas gerações apenas ouviram a lenda da máquina que foi o terror de uma época e ficaram felizes,afinal,as ruas estavam livres do tão temido monstro de metal.

sandro leao
Enviado por sandro leao em 01/06/2012
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