Ruim no jogo, péssimo no amor...

Marlos terminou de digitar o e-mail e enviou.

Querido amigo Julien,

Quando vier, traga os seu livro publicado. Vamos fazer uma pequena comemoraçãozinha. Eu comprei um vinho e Luíza vai cozinhar um prato vegetariano para nós três. Não se atrase!

Abraços,

Marlos

Conheciam-se há muito, dos tempos de escola e já haviam dividido um sem-número de passagens da vida; desde os encantos e confidências dos amores da adolescência até algumas vitórias da vida adulta após se reencontrarem, uma penca de anos depois.

Luíza saiu para comprar as coisas para o jantar. Como você está, velho amigo?

Bem, obrigado por perguntar. – disse dando um sorriso. – Não tão bem quanto eu gostaria, na verdade. – acrescentou logo a seguir. – Você como sempre me recebe de braços abertos. Não sabe o quanto preciso dessa recepção sua.

Por que? O que houve? Mas vamos entrar...

Julien era conhecedor profundo de ocultismo e seus afins como o mundo esotérico, terapias alternativas espirituais e a própria magia. Seus livros concerniam em romances de cunho sentimental com um fundo de magia, misticismo e sobretudo, esoterologia, a arte das artes como ele dizia. Escrevia com o caminho aberto por Paulo Coelho e outros. Tinha começado a escrever há 15 anos atrás e a partir de 5 anos atrás, o seu livro Elemento Místico foi publicado na primeira edição.

Começaram a conversar e quem visse os dois amigos batendo papo diria que lá estavam dois meninos do colégio trocando figurinhas sobre os esportes, a música e as garotas e assim era. Julien não tinha tido sorte nos seus relacionamentos amorosos e continuava solteiro, ao contrário de Marlos que tinha se casado. Marlos tinha um emprego como administrador numa empresa de engenharia e fora onde tinha conhecido Luíza, após um rápido namoro, se casaram. Os assuntos ademais, compreendiam notícias dos amigos de juventude e a política. Não muito do trabalho de Julien, seus livros esotéricos, ele podia compartilhar com Marlos, que não era dado a essas questões, embora não as repelisse. Apesar disso, os dois se entendiam bem. Julien foi depois falando do que lhe afligia e trocou o clima de cordialidade por uma leve tensão no ar.

E agora estou com essa dívida enorme. Estão leiloando a minha casa e eu terei que me mudar para um apartamento bem menor. – queixou-se Julien.

É... triste a vida de escritor no Brasil.

É mesmo. O que eu ganho, que é muito pouco, dos direitos autorais, só dá para eu investir em alguns livros aqui e acolá que eu escolho no sebo, ou que me escolhem no sebo. Dizem que os livros antigos é que nos escolhem...

Depois Luíza chegou e eles tiveram, após algumas horas de cozinha, uma animada refeição de vegetarianos que eram, regada a vinho. Nas despedidas, Julien tratou de desconversar quando Marlos ofereceu-lhe ajuda financeira, que era pouca mas que poderia servir. Não queria exigir demais do amigo, colocando-lhe atribuições que não tinha e não aceitou a ajuda.

Anos se passaram e Julien continuava com seus problemas financeiros e com a solidão nos relacionamentos amorosos. Nunca mais tinha publicado nada, porque as condições das editoras sempre eram de um parceria no custo da edição e ele não tinha como nem pensar em gastar dinheiro. Foi quando recebeu o e-mail do Marlos, perdido por entre as mensagens de correio eletrônico comerciais que, ás vezes, ele nem abria.

Querido amigo Julien,

Não posso convidá-lo para uma comemoração. Os tempos estão bicudos para mim também. Mas venha assim mesmo para batermos um papo.

Abraços,

Marlos

Estava chovendo bastante quando ele foi até a casa de Marlos e Luíza e ele chegou sem fazer alarde na casa do amigo para não perturbá-lo e foi logo ouvindo as queixas de Marlos, enquanto guardava o guarda-chuva. Ele tinha perdido o emprego na empresa de engenharia e amargava agora um fim de mês sem um tostão furado.

– A situação está ruim para todo mundo... – disse Julien.

– Escritores ou não escritores...

– Pois é. – reiterou o ocultista.

Depois de tomarem um copo d´água cada um, ficou sabendo que o relacionamento entre Marlos e Luíza estava muito ruim e que era bem possível que eles se separassem.

– Amigo... É como dizem, ruim no jogo, péssimo no amor... – afirmou Julien.

– Que diabo de ditado é esse? – perguntou Marlos.

– Acabei de inventar... Liga não...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
Enviado por Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) em 05/06/2012
Código do texto: T3707441
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