PAPAGAIO INÚTIL

Era dia das mães, duma mãe pobre favelada, sem geladeira e sem sofá.

O menino havia trabalhado o dia inteiro vendendo picolé e sua mãe lhe era a coisa mais preciosa do mundo. Foi ele agradá-la à sua própria lente infantil.

Tomou quatro mil cruzeiros que podia comprar muito leite para os irmãozinhos, ou alguns quilos de arroz ou de feijão. Dava para comprar café e sal. Mas seus olhos pequeninos e vesgos não exergavam isso.

Todavia, estando em um supermercado no centro da cidade, procurou pelas prateleiras por um presente que agradasse à sua mãe mas, desde que fosse com as suas cores e isso fazia inconscientemente.

Foi então, que viu, entre muitas bugingangas, um papagaio de louça, com as cores da bandeira do Brasil. Era ditadura e todos os dias aquele menino desnutrido cantava o hino nacional no início das aulas de sua escola. Não obstante, amava a bandeira nacional e apreciava as suas cores.

O papagaio de louça, era totalmente inútil naquela casa de refugo de madeira, onde não havia um que fosse lugar decente para colocar o tal bibelô. Entretanto, sua mãe mostrou-se alegre e sorriu mostrando seu farto espaço entre os dentes da frente.

O menino nem se deu conta da inutilidade daquele presente e ficou feliz porque sua mãe se mostrou feliz. Talvez aquele presente colorido tenha tido a virtude de contrastar tanta coisa velha e monocromática que existia naquele barracão pois, ali, ele se mostrava bem mais bonito que entre os pares no supermercado.

Eh vida!...