Fazendo Barba

Faço a barba. Diante do espelho, o rosto escuro pelos pelos espessos. A água jogada com as mãos em concha sobre a face. Olhos que apreendem todo o contorno, traçando uma estratégia de corte. A espuma é feita ao arrastar da mão, que espalha a substância que facilita o deslizar da lâmina. Uma pia aguarda ansiosa, os restos que lhe serão ofertados, feito um sacrifício modesto. A barba é feita, como uma colheita que não se apreende os frutos. Restos capilares agarrados a espuma, vão preenchendo o poço que os absorve com uma porção de água, que desce como cascata da torneira. Um ir e vir de lâminas, que vão criando caminhos, limpando o aspecto escuro e fazendo aparecer a pele, alisada pela fricção da gilete.

O peito nu, expondo uma penugem, torna-se também alvo. Um pouco de espuma sobre o tórax, a lâmina deslizando. O chão recebe as porções de pelo, uma das mãos ainda tenta amparar os primeiros montes que caem. A gilete contorna os mamilos, alguns cortes são feitos pela lâmina que cega rapidamente, devido à volumosa pelagem. Rosto liso e peito raspado, fazendo surgir estrias e outras características que os pelos velavam. O tórax parece mais volumoso. Uma troca de lâmina, o aparelho em mãos, parece pedir mais pelos. Raspa as pernas, deixando-as com aparência mais fina. As costas são mal raspadas, devido a falta de posição e por não alcançar toda aquela extensão do dorso.

Olha para o pênis flácido. Começa a deslizar a lâmina pelos flancos, limpando as virilhas. Atacando em seguida o chumaço acima do falo, deixando no boxe, tufos pubianos. Os testículos são contornados, sendo suspensos em seguida, para alcançar o períneo. Chegando ao ânus, raspa o rego, sente nas pregas a lâmina. Subindo pela nádegas, não deixando uma fração sequer, que não seja ceifada pelo aparelho insaciável. Uma negação aquele estado animalesco, que aproxima o homem das outras espécies. Agora se fazendo um sem pelos, talvez mais próximo de vermes e outras formas menos bestiais. A genitália pende, feito um anelídeo, com seus anéis de dobras de pele. Esfrega os pelos sobre o corpo, misturados a espuma e água que se acumulara próxima ao ralo. Lavando-se embaixo da ducha, que faz tudo escoar, restando apenas sua forma despelada, que logo começar a pinicar, com a maldição dos pelos que já começam a renascer.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 21/07/2012
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