Um Anjo

George Luiz - Um Anjo

Era impossível alguém deixar de achar Marisa um anjo. Tinha sido assim desde pequena. No jardim de infância ela já mostrava como iria ser a vida inteira. Essa menina, diziam as professoras, não tem defeitos, é incapaz de fazer alguma coisa que não seja boa e bem feita, não tem nem aquele pinguinho de maldade que tantas crianças mostram as vezes ,por melhores que sejam.

A família de Marisa morava em Copacabana. Não era o bairro ideal para se criar uma filha ou filho. Mas os alugueis e os preços dos apartamentos, exceto na avenida Atlântica eram mais acessíveis. O deles era antigo,o prédio era feio, mas era grande, muito confortável. Pena que na época da construção os apartamentos de três quartos dificilmente tivessem dois banheiros. O doutor Teixeira, pai de Marisa, bem que tentara construir um segundo banheiro, mas não havia como. Conseguira, entretanto, fazer um pequeno lavabo no amplo hall de entrada. Não ficara lá muito bonito, mas quebrava um galho. Marisa estava com quatorze anos quando o lavabo foi construído e Artur, seu irmão era um garotão de dezessete e, como o resto da família, amava sua irmã. Agora que Marisa entrara na adolescência, Artur vigiava os rapazes em geral, na praia e nas festinhas do clube, até seus próprios amigos sentiam que não valia a pena pensar em namorar a garota sem se arriscarem, Artur era faixa preta em jiu-jitsu e não escondia que sua irmãzinha querida não era para o bico de qualquer um.

Desde a sexta série, no colégio, Marisa tivera uma amiga inseparável, a Lucinha. No inicio, os estudos as aproximaram.Lucinha tinha dificuldade com matemática e sua amiga com português. E as duas se habituaram a estudar juntas,moravam perto uma da outra. Daí a se formar uma grande, uma enorme amizade, tinha sido uma questão de poucas semanas, as duas não se falavam menos de cinco ou seis vezes por dia no telefone quando não estavam juntas. Tinham gostos e preferências muito parecidos. As famílias tinham se aproximado, se tornado íntimas. Matilde, a mãe de Marisa as vezes se preocu-pava e comentava com a mãe de Lucinha.

- Imagina, Teresa, se essas duas assim tão unidas e amigas, resolvem gostar do mesmo rapaz quando forem mocinhas. Não gosto nem de imaginar isso.

- Que bobagem, querida, Essas coisas só acontecem em novela da Globo, eu não tenho a menor preocupação com isso.

Quando Lucinha e Marisa tinham dezoito anos tentaram o vestibular para arquitetura no Fundão. As duas eram ótimas alunas, tinham muita chance de entrarem e continuar estudando juntas. Tinham feito o mesmo cursinho pré vestibular e os professores não tinham dúvidas que ambas teriam sucesso.

Foi no cursinho que conheceram Paulo. O rapaz se aproximara delas um pouco porque também morava em Copacabana, só que no Posto seis, na Raul Pompéia. Era três anos mais velho que as duas, nascido em Campos, filho de uma família de usineiros. Resolvera fazer arquitetura porque tinha essa vocação desde garoto. Era filho único e os pais não gostavam muito da idéia do filho passar alguns anos longe deles estudando. Mas Paulo tinha persistido na idéia e agora estava ali, morando sozinho num apartamento agradável que o pai alugara para ele. Recebia uma mesada generosa, tinha seu carrinho e como também era estudioso e bom filho, os pais não deixavam que lhe faltasse nada.Passava as férias em Campos.

Era natural que Paulo acabasse namorando uma das duas. Ele escolheu Lucinha bem mais exuberante que Marisa, um rostinho bonito emoldurado por cabelos louros e ondulados e um corpão pra página dupla de revista erótica. Marisa era alta e magrinha enjoada para se alimentar, era a única preocupação que dava aos pais e ao irmão mais velho. E Lucinha que nunca tivera um namorado firme,apaixonou-se por Paulo sem muito esforço.

A preocupação de Matilde mostrou que não tinha razão de ser. As duas amigas continuavam inseparáveis e agora saiam freqüentemente os três juntos, as duas e Paulo. Claro que Marisa procurava não empatar o namoro de sua grande amiga, chegara a provocar alguns protestos de Lucinha.

- Você tem que parar com essa estória de sair menos comigo e o Paulo, poxa. A gente tem muito tempo pra nos curtir a sós. Não é isso, Lucinha. É que eu não quero ficar grudada em vocês dois como um emplastro.

- - Olha, se você disser isso de novo, vou acabar me zangando .

- Nas férias do meio de ano, os pais de Paulo resolveram passar duas semanas no Rio e o encontro com os pais de Lucinha tinha sido ótimo . Também gostaram muito de Marisa, quem poderia deixar de gostar daquele anjo de garota? E no verão seguinte insistiram para que Marisa fosse junto com sua amiga, passar um mês na usina, que tinha piscina, cavalos para montar, uma delícia. Marisa encantou todos que a conheceram em Campos e Lucinha pensou até que ela fosse namorar o Raul, um ótimo rapaz que a paquerou enquanto ela esteve lá. Marisa, mais tímida que sua amiga, não estimulava muito os avanços de Raul, mas quando as duas voltaram para o Rio com Paulo, Lucinha estava certa de que era só uma questão de tempo, Raul estava visivelmente apaixonado por sua grande amiga.

- Algum tempo depois, Lucinha resolveu fazer um curso livre de desenho e pintura no atelier de um conhecido professor. Insistira com Marisa para fazer o curso com ela, mas a amiga recusara, dizia que não tinha o mesmo talento da amiga e que preferia , quem sabe? Fazer umas aulas particulares de inglês.

- Lucinha se empolgou com o trabalho no atelier, estava fazendo muito progresso e tinha começado a pintar a óleo, ia duas vezes por semana a tarde e ficava duas horas desenhando e pintando.

Marisa tinha iniciado com um grupo pequeno suas aulas de inglês e o que era melhor, os horários coincidiam e elas costumavam se encontrar para um lanchinho uma meia hora depois das aulas.

Na confortável cama do seu apartamento, Paulo percorreu mais uma vez com sua boca o magro mas bem torneado corpo de Marisa. Deteve-se gulosamente no bico de um de seus pequenos seios, ergueu as longas e bem feitas coxas da garota para penetrá-la novamente. Marisa gemeu gostosamente ao senti-lo.

- Como vai ser, Marisa? depois que eu me casar com a Lucinha?

- Ora, amorzinho, eu vou ser a sua gatinha de sempre, sua amante gostosinha.

- Ah, vem cá , morro de tesão por você, não quero perder você nunca.

- Nem vai perder, querido, a Lucinha me adora, nunca vai saber de nada..

Marisa começou a atravessar a avenida Copacabana parar ao encontro de sua

amiga no MacDonald’s. Ainda trazia na boca o sabor dos beijos alucinados de Paulo. O sinal ficou vermelho quando ela chegava no meio da rua , ainda tentou se desviar do táxi que avançou desenfreado.

No velório de Marisa o clima era de desespero.O pai ainda tentava se controlar mas a mãe parecia em estado de choque amparada por Teresa. A um canto, Paulo chorava abraçado com Lucinha, parecia mais abatido que ela. Lucinha olhou para o namorado procurando confortá-lo.

- Não fique assim, meu amor perdemos nossa irmãzinha, eu sei, mas tenho absoluta certeza que a essa hora ela está no céu. Ela sempre foi um anjo.

George Luiz
Enviado por George Luiz em 12/02/2007
Código do texto: T379036