No Restaurante

Sentados, em uma mesa de madeira bem trabalhada, com cadeiras pesadas, levemente arrastadas, com intuito de não provocar barulho. Um grupo senta-se à mesa, apoderando-se de cardápios, ávidos pelos nomes que estavam contidos daquele sumário da glutonaria. Risos entrecortados por falas que relembram momentos que vivenciaram juntos. Um dos casais mantém as mãos enlaçadas, o rapaz ampara o braço sobre a coxa da moça, que usa um vestido comprido. Sente que pode ter sido ousado com gesto, desejando em breve retirar a mão e não causar embaraço. A moça pensa no quão delicioso é o toque em sua perna, umedecendo levemente a calcinha, ficando frustrada com a retirada da mão.

Cervejas são servidas, diversas rodadas. Os pratos escolhidos, com o garçom sorrindo, sendo elogiado pelos ocupantes da mesa, que comentam sobre o bom atendimento e a simpatia do funcionário, indagando sobre o quão dura deve ser aquela profissão e a baixa remuneração. O garçom faz o pedido, pensando em sua namorada sozinha naquele final de semana, se não estaria traindo-o e o quão fúteis eram as pessoas que servira. Duas moças se retiram, vão ao banheiro. Os homens discutem sobre futebol, fazendo piadas sobre mulheres se deslocarem em bando aos sanitários. No banheiro, uma das mulheres retoca a maquiagem diante do espelho, enquanto a outra urina, aproveitando para o troca o absorvente ensopado, sentindo certo asco pelo aspecto do banheiro, imaginando quantas nádegas sentaram-se ali, quantos respingos de urina. Por via das dúvidas, urinara quase de pé, dobrando os joelhos, estendendo por cima da porta da cabine, o vestido, ficando apenas de roupas íntimas, o que ocasionou sujar todo aquele cubículo, formando poças junto a privada, salpicada de vermelho.

De volta à mesa, fora a vez de um dos rapazes se dirigir ao sanitário. O rapaz que ficara, lançava olhares de flerte a moça sem companhia, sendo correspondido. Sua namorada não identificava essa promíscua insinuação, pois o ângulo não a fazia perceber a tênue transformação no olhar. No banheiro, o rapaz procurou se apoderar de um cabine, constrangido em utilizar o urinol e expor um membro que considerava modesto. Funcionários da limpeza foram chamados ao banheiro feminino, tudo muito discreto, sem causar constrangimento aos clientes. A funcionária da faxina, comentava a respeito da vaca hemorrágica que estava sangrando a ponto de lambuzar as paredes. A música ambiente era basicamente MPB, sendo que a prioridade eram os ritmos de uma nova safra de cantores que agrava ao público jovem.

Um dos rapazes, passou por um leve momento de preocupação, deixando seu semblante anuviado, mas ninguém deu conta do processo. Havia se lembrado de ter saído com uma garota de programa, sexo feito sem preservativo, aquela aura de possibilidade de doença. Logo esqueceu o assunto, a cerveja já chegara em um nível relaxante, os risos se exaltavam. Resolveram deixar suas parceiras, indo a uma espécie de sacada do lugar, para poderem fumar. Acendram os cigarros, davam tragadas demoradas. Apreciavam outras mulheres que adentravam o recinto, com comentários acerca das proporções físicas, vez ou outra um olhar mais agressivo, encarando as grotas que chegavam. Voltaram à mesa, as mulheres em silêncio, a conversa já se esvaziara. A menstruada já comentava acerca de suas cólicas, enquanto os homens bebiam e satirizavam o sofrimento hormonal feminino.

Saíram do restaurante, alegres e festivos. Todos em um mesmo carro. Entre brincadeiras e risadas, o acidente. O carro desgovernara-se, batendo em um poste. A força do impacto fez o crânio do motorista se partir ao meio. A carona fora projetada para foras do veículo, a uma distância considerável. Os passageiros ficaram aprisionados nas ferragens, ainda vivos quando o resgate utilizava equipamento para cortar o metal que os envolvia. Um falecera ali mesmo, diante dos olhos daqueles expectadores. A outra mulher a caminho do hospital, não resistira aos graves ferimentos. O garçom não recebera sua gorjeta, o que o fez desejar que fossem para o inferno aquelas mesquinhas pessoas. O rapaz preocupado, não precisava mais pensar a respeito da possível doença venérea, nem sobre seu desejo em abrir as pernas da namorada do amigo, mesmo estando menstruada. Para o motorista, que já raciocinava pouco pelo efeito do álcool, fora um alívio não estar mais naquele estado de sonhar acordado. Já sua carona, empolgada com a formatura que estava próxima, acabou rendendo um discurso emocionado na colação de grau.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 24/07/2012
Código do texto: T3794433
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