SIMPLISMENTE MARLI



Marli é mais uma dessas mulheres comuns que conhecemos, porém pra mim são nessas mulheres comuns é que encontramos a força que rege uma nação. Conheci Marli eu devia ter uns 10 anos de idade, foi quando fui morar com minha mãe na Vila Aliança (Senador Camará), zona oeste do Rio de Janeiro, é uma das amigas da minha mãe até hoje. Neste período minha mãe trabalhava na casa da irmã dela, a Marlene que morava em Padre Miguel, foi nessa casa que comi melão da primeira vez, eu sempre olhava aquela fruta amarela, sem saber o que era e um dia eu pedi a Marlene, minha mãe brigou comigo, mas a Marlene disse: “O que é isso Ivone, deixa a menina comer, venha experimente, isto é melão”, falei da irmã, por que nunca entendi, a Marlene tinha dinheiro e a Marli nunca foi de viver as custas dela e é aí que me chamou atenção, pois ao longo dos anos pude acompanhar mesmo de longe a vida sofrida de Marli e, sempre sem perder a dignidade. Ao longo destes anos Marli perdeu sua irmã Marlene, não lembro se os sobrinhos a ajudaram de alguma forma, sei do que vi, sempre passei pra visitar minha mãe depois de mudar de lá e ela sempre sentada num mesmo lugar, me cumprimentava, hora mais magra, hora mais gora, hora doente, hoje Marli é diabética e continua trabalhando em casa de família, a filha se drogou, os netos também, e ela firme feito uma rocha, sempre com o mesmo sorriso e disposição, não me lembro de vê reclamando de nada, só lembro da figura dela sentada numa pedra e quando eu passava, levantava pra me cumprimentar e falar das novidades. Falar de Marli causou estranheza para minha família, mas Marli é mais uma mulher negra, forte e valente que conheci e tenho o prazer de falar, pois são dessas mulheres anônimas que ajudam a construir nossa sociedade que tento mostrar ao mundo sua importância e ás vezes nem elas tem tempo para parar e pensar nisso, pois só o que sabem fazer é trabalhar para sustentar a família sem questionar o que está a sua volta.
Marli tem o brilho das mulheres negras, mães, domésticas, moradora de comunidade, todo o diagnóstico de uma guerreira.







Elaine Marcelina
Enviado por Elaine Marcelina em 13/08/2012
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