Paneb e a Morte em Vida

Ele observou mais uma vez o céu escuro carregado de nuvens.
Na cabeça uma pergunta recorria com os pensamentos amargos: por quê?
Não havia resposta.
Aliás, não havia nada. Nenhum som, nenhum sinal, nenhum alento.
Tudo no mais absoluto e dolorido silêncio.
Ele respirou e esticou o corpo dolorido e mais uma vez olhou para dentro tentando achar uma forma de acabar de vez com aquele vazio.
Era um covarde. Disso já sabia há muito.
Portanto, nem da própria morte seria autor já que não era também, senhor da própria vida.
Uma luz piscou na tela e quase com dor ele viu a mensagem que entrava.
Não abriria, não leria mais um dos intermináveis textos de lascívia pura e de aproveitamento zero. Queria que fosse diferente para variar.
Não conseguiu.
Quase sem jeito, puxou a cadeira e clicou no e-mail.
Lá estava uma delas. Como sempre, oferecida e exposta com os mesmos adereços de todas, com a mesma escrita capenga, regada com o velho vinho avinagrado do sexo para todos.
Riu do pensamento.
Até que era bonitinha. Até que a fita cor de rosa combinava.
Com ele, certamente, era diferente.
Com ela, por certo, ele fazia a diferença.
O sorriso de escárnio enrugou o rosto retorcido.
No fundo, sabia que era mais um, assim como aquela era apenas outra.
Carne barata adornada com fetiches e objetos sexuais disponíveis em qualquer beco, em qualquer loja fétida de esquina.
Empurrou o teclado com nojo do que via na tela e do que via na alma.
Precisava de uma vez por todas, pôr fim naquilo.
Precisava respirar e se libertar dos males que alimentava todos os dias, fortalecido na fraqueza e no mal que se permitia gratuitamente.
Olhou a garrafa esquecida desde a noite anterior sobre a mesa.
Meio litro de anestésico trivial.
Meio litro de conforto para os demônios ávidos.
Se tivesse sorte, uma hora de quase paz.
Bebeu o primeiro gole com os olhos perdidos no céu revoltoso.
Iria chover. Tempestade talvez.
A foto visceral da mulher que declarava seu amor por qualquer um que soubesse manipulá-la, zombava dele.
Repetia para todas, e mais para si mesmo, que era especial ao lado delas.
Perguntava vezes sem fim para elas se havia feito alguma diferença.
Todas respondiam sim.
Todas mentiam.
Ele nem fingia mais que acreditava, mas precisa ouvir, precisava ler, precisava qualquer coisa que preenchesse aquele buraco na barriga.
Outro gole e um relâmpago no céu chumbo.
Quem sabe não prestava mesmo.
Quem sabe elas viam o que ele sempre tentava esconder.
Um trapo.
Um farrapo de gente com estampa quase boa, destas que quase chegam a convencer mas se diluem no primeiro olhar mais profundo.
Quem sabe por fim a verdade?
Até os abutres conhecem seu destino na terra.
Até os vermes possuem um objetivo.
Ele?
Talvez nem para verme servisse.
Esvaziou o copo e fez uma careta quando a bebida arranhou a garganta.
Era hora de começar de novo.
Tempo de decisão.
Tempo de mudar.
Tempo de ser diferente.
Com o fel corroendo as tripas, caiu.
Era o que era, nada nem ninguém mudaria aquilo.
Voltou para a cadeira e olhou a mercadoria com a fita rosa. Estupidamente patética!
CTRL C, CTRL V
“Olá, meu anjo! Que bom que apareceu. Já começava a sentir saudade”.
Do outro lado da tela o sorriso reptiliano de satisfação nem se fez notar.
A chuva negra caía mais uma vez. Como em tantas outras vezes.
Ele enfim, continuava no conforto da caricatura que lhe servia.







Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 21/08/2012
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