Lição no trânsito

Jane sentia o gradual aumento de sua temperatura corporal, sua pele começava a arder e gotículas de suor formavam-se na sua pequena testa. Que calor dos diabos, pensava ela enquanto esperava que uma gigantesca fila de automóveis arrastassem-se sob o asfalto quente. Dentro de seu pequeno carro amarelo após ouvir o barulho de um grande estrondo, Jane sentiu que o velho clichê "pior não pode ficar" havia sido esmagado juntamente com um velho carro, que tinha sido vítima de uma camionete. A grande camionete havia encostado na traseira do velho carrinho gentilmente habitado por ferrugem e que teria agora não uma, mas duas lanternas traseiras estraçalhadas. Pelo menos foi isso o que Jane e outros motoristas conseguiram ver esticando seus pescoços com grande desenvoltura. Não bastasse o encontro daqueles dois malditos carros, mais três juntaram-se aos desafortunados. Os motoristas daquela agitada avenida avistavam assim uma belíssima obra de arte, e conseguiam prever um almoço perdido, que seria substituído por uma engordurada coxinha no bar do Zé. Ao lado daquele monstruoso engarrafamento, havia uma escola, onde pequeninos aspirantes a estudantes e alguns poucos jovenzinhos esperavam a carona de seus pais para a volta do para o conforto de suas casas. Jane resolveu aceitar o que o destino lhe apresentava e fitou a escola com interesse.

"Não lhe darei mais o que me pedes. Por um momento, tu estavas prestes a conseguir o que tanto querias, mas faltou-lhe humildade."

Jane sorriu para o seu reflexo no retrovisor ao ouvir isso vindo de um jovem pai e sendo dirigido a um menino gorducho que não deveria ter mais que os seus anos. Começou a refletir. Será que o menino sabia o que queria dizer h-u-m-i-l-d-a-d-e? Quem olhasse o menino esperneando e gritando a plenos pulmões diria que não. Jane admirou a postura do pai, apesar de ter dúvidas se o menino estaria ou não entendendo alguma coisa. Hoje em dia, conseguia-se tudo muito fácil dentro de casa, entretanto quando saísse para conhecer o mundo além dos umbrais de seu lar, a coisa era um tanto diferente. Criancinhas eram criadas com muitos mimos e regalias, muitos presentes materiais, mas poucos valores sendo efetivamente ensinados. Jogos e vícios tecnológicos substituindo uma infância que deveria ser traduzida em convivência, com crianças menores, maiores, adultos, idosos e não com imagens refletidas em telinhas portáteis. Aquele pai, estava no caminho certo. Jane só acordou para essa vida com o barulho de uma buzina emitida por um carro que estava logo atrás dela. O caminho estava livre e a fila de automóveis começava a andar menos preguiçosamente. Olhou para o seu fino pulso. Dez para as duas, o relógio marcava. Jane almoçaria a coxinha de frango naquele dia.

mmmalencar
Enviado por mmmalencar em 02/09/2012
Código do texto: T3862549
Classificação de conteúdo: seguro