TEMPOS MODERNOS

- Qual é o seu nome?

- Roberta e seu?

- Daniel...

- Bonito nome!

- Obrigado...homenagem ao meu avô!

- Meu pai também chamava Daniel...

- Lamento...

- Tudo bem, já faz muito tempo...

- Quando eu tiver um filho, vai chamar Daniel também...coisa de família, sabe?

- Ah, que lindo!

- Quero muito ser pai...

- Eu sonho em ser mãe...

A partir daí, o papo rolou. Conversaram um pouco sobre família, filmes, músicas e trabalho. Descobriram um ou outro amigo em comum e até que moravam na mesma região da cidade. Trocaram telefones e continuaram se falando.

Ela, que tinha o costume de acordar tarde, passou a acordar cedo, só para mandar mensagens de bom dia. Ele, que era mau humorado pela manhã, passou a esbanjar um bom humor irritante desde o momento que saia da cama.

Os dias passavam voando para os dois. Depois de uma semana de intensa trocas de mensagens, decidiram também trocar fotos. Ela gostou do que viu, ele então, nem se fala. Naquele instante, tiveram a sensação de que haviam sido feitos um para o outro.

Se falavam o dia inteiro e não faltava assunto. Ela contava tudo sobre seu trabalho e sua família. Ele não ficava para trás e falava dos seus amigos, dos seus planos para o futuro, suas ideias e seus ideais.

Nitidamente, estavam apaixonados. Ela não parava de pensar nele. Ele não parava de pensar nela. Nua.

Dia após dia, o tesão crescia dentro dos dois. E crescia tanto, que ela não via a hora de se entregar para o seu amado, enquanto ele percebia que estava ficando louco com todos aqueles pensamentos. Sem sombra de dúvidas, os dois precisavam se agarrar desesperadamente.

Já se conheciam há meses quando finalmente decidiram se encontrar. Marcaram em um bar e não precisaram nem dar a descrição de suas roupas, pois de tanto ver fotos e mais fotos, já sabiam cada detalhe dos seus rostos e até dos seus corpos. A cor dos olhos de um, a covinha na bochecha da outra, a marquinha de nascença na bunda dele, a cicatriz de quando ela caiu da árvore e precisou levar 12 pontos na coxa, aos três anos de idade.

Roberta chegou primeiro e pediu uma mesa para dois. Nem bem havia sentado, quando viu Daniel entrando pela porta do bar e seu coração disparou. Ele a viu de longe e logo foi até a mesa. Cumprimentaram-se meio sem graça, tímidos.

- E ai!

- Tudo bem?

- Tudo ótimo...e você?

- Também...

- Finalmente, hein!

- Achei que esse dia nunca iria chegar...

- Eu também...

- Você é mais bonita pessoalmente...

- Obrigada! Você também...

- Obrigado...

- Então, esse é o Daniel!

- E essa é a Roberta!

- É...

- É...

Um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente. Ela não sabia o que fazer com as mãos, ele não sabia para onde olhar. Rezaram pera o garçom chegar e nada. Evitavam cruzar olhares. Ele até tentou falar do tempo, mas não colou. Ela começou a se lamentar, pensando que haviam conversado tanto por mensagens, que não tinham mais assunto. Ele começou a ter dores de barriga até que um barulho de mensagem no celular quebrou o silêncio.

Aliviado, Daniel pegou o celular do bolso e, para sua surpresa, viu que a mensagem era dela. Beberam um pouco entre um sorriso e outro até a hora de ir embora. Nunca mais se encontraram, mas transam todos os dias. E, mesmo sem camisinha, ela nunca engravidou.