Uma dor

Ela entrou, vestida num conjunto preto. Jovem, 28 anos. Saia longa e reta, blazer, uma blusa branca e bonita com rendas.

A expressão era contorcida.

- Sinto dor, muita dor.

- Por que não veio mais cedo? É quase meia-noite.

-Hoje havia culto na igreja, e a pregação era de minha responsabilidade.

Observei atentamente, examinei. Descobri a causa. Questionei:

-No que você trabalha?

-Eu era balconista, trabalhava no comércio. Mas, depois de um câncer, prometi a Deus que, se me salvasse, trabalharia apenas para Ele.

-Perguntei apenas para lhe orientar quanto às limitações do seu caso, para que você sinta menos dor amanhã.

-Tome o remédio direitinho, mas diminua a ansiedade, o stress - falei.

-Como a senhora sabe?

Não respondi, apenas sorri, com cumplicidade e ternura.

Ela se foi. Minha noite valera a pena. Auxiliei alguém que precisava. Dormi bem, acordei leve, com a inigualável sensação e paz. Pensei: Ela deve ter orado por mim.

Dia bom, bom dia.

Reginacel
Enviado por Reginacel em 22/02/2007
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