Uma dor
Ela entrou, vestida num conjunto preto. Jovem, 28 anos. Saia longa e reta, blazer, uma blusa branca e bonita com rendas.
A expressão era contorcida.
- Sinto dor, muita dor.
- Por que não veio mais cedo? É quase meia-noite.
-Hoje havia culto na igreja, e a pregação era de minha responsabilidade.
Observei atentamente, examinei. Descobri a causa. Questionei:
-No que você trabalha?
-Eu era balconista, trabalhava no comércio. Mas, depois de um câncer, prometi a Deus que, se me salvasse, trabalharia apenas para Ele.
-Perguntei apenas para lhe orientar quanto às limitações do seu caso, para que você sinta menos dor amanhã.
-Tome o remédio direitinho, mas diminua a ansiedade, o stress - falei.
-Como a senhora sabe?
Não respondi, apenas sorri, com cumplicidade e ternura.
Ela se foi. Minha noite valera a pena. Auxiliei alguém que precisava. Dormi bem, acordei leve, com a inigualável sensação e paz. Pensei: Ela deve ter orado por mim.
Dia bom, bom dia.