Clarisse;

Seus olhos são mais azuis que o céu, seu toque é suave e suas mãos são frias. Cheia de emoções guardadas e delicadeza sobre todo seu corpo, como o lençol de veludo que a cobre. Clarisse deitou ás duas da manhã por não conseguir parar de pensar no que tinha se tornado: alguém solitário, rancoroso e insignificante; tudo culpa do seu ego inflado e de sua estupidez ao dizer adeus as mais belas faces que surgiram em sua vida. Clarisse nua, com seu corpo branco, bochechas rosadas, mamilos cor-de-rosa e cabelos loiros, espreguiçava-se na cama até ter coragem de vestir-se para ir ensaiar. Nem mesmo as amigas do ballet conheciam Clarisse, ninguém ousava ultrapassar as barreiras por ela impostas. Levantou, acariciou e beijou Benjamin seu gato, que era negro e tinha pelos longos. Pegou a bicicleta e pensava no que faria apos o ensaio, sorvete no centro, uma corrida na praça, uma lida no seu livro. Chegou até o studio, tateou as sapatilhas e as ajeitou nos pés, estavam praticando saltos e Clarisse era como uma estrela cadente na sala de dança: unica, ‘brilhante’, esperada, forte e bela. Sua altura, proporcional a dança a ajudava a ser a mais bela de sua aula, fazia piruetas e fouettés como ninguém.

Estava em casa novamente, chovia la fora e ela se esquentava perto da lareira; ela queria que ela também a esquentasse por dentro, que sua vida fosse menos dolorosa pra viver. Ela perdera o pai e a mãe a abandonou, logo ela seguiu seu rumo, cuidando de si e tornando-se fria, opaca e sem vida. Seus cabelos loiros se misturavam porque o vento adentrava a sua casa pela janela entre aberta. Um vento que era alucinador; cauteloso; unanime. Ela achava que sua personalidade era medíocre e piegas, mas pelo contrário ela tinha a mais bela personalidade e o mais belo jeito de agir com o próximo. Mas ninguém a valorizava, até que ela sumiu da vida de todos que a rodeavam, aos poucos. Agora ela fica quieta dentro de sua casa a maior parte do tempo, pensando no amanha e no que ela pudera ter feito pra mudar algo. Angustiada, magoada e sofrida, ela não tinha razões para seguir o caminho.

Chegou até o lustre, cambaleou subindo na cadeira e amarrou uma corda no teto. desceu e ficou a observar se era mesmo aquele caminho que ela queria utilizar para cessar todas as suas dores e impotências internas. Deitou no sofá e continuou a olhar, nem ao menos tinha tirado a roupa do ensaio, ainda estava com seu colã e suas polainas. Ela decidiu retirar a corda, precisava de coragem demais para se enforcar e era o que ela menos tinha. Deitou no sofá. Cobriu-se com o seu lençol de veludo, tomou seus calmantes, colocou mozart no rádio e então decidiu que iria morrer da forma mais triste e dolorosa possível: ficando aqui e tendo que ‘andar’ com o mundo.

Moira Louis
Enviado por Moira Louis em 21/09/2012
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