Ingenuidade - Parte II

Depois dos momentos maravilhosos que passaram juntos na lua-de-mel, parecia que o sonho havia acabado. Paulo havia se transformado em outra pessoa. Não permitia que Ana saísse de casa sozinha e contratou uma empregada para cuidar da casa e vigiar a esposa. Era difícil até conversar com a própria mãe, sem que a empregada não estivesse pelos cantos da casa ouvindo, para depois relatar tudo ao patrão. Ana vivia um verdadeiro inferno, sempre achara que havia feito uma excelente escolha, mas já não tinha tanta certeza. Pedro era um marido atencioso e nunca deixava faltar nada a Ana. Ela tinha belas roupas, belos sapatos, comiam do bom e do melhor e até na hora do sexo, Pedro era sempre muito carinhoso. Ana sempre se perguntava que motivos o marido teria para desconfiar dela, ou mesmo proibi-la de sair. Um dia ela inocentemente perguntou-lhe se poderia visitar a mãe. Paulo estava sentado lendo o jornal e encarou-a com um olhar frio respondendo:

-- Quando é que vai entender que agora você é minha?

-- Mas não posso ver nem mesmo minha mãe? Perguntou ela

-- Não pode ver ninguém — E saiu da sala batendo a porta.

Ana entrou em verdadeiro desespero, não conseguia pensar em nada que pudesse justificar a atitude do marido. O tempo parecia se arrastar, não havia nada para fazer, já não agüentava mais ser prisioneira em sua própria casa. Tomou coragem e saiu sem o marido saber, não foi muito longe, queria apenas dar uma volta pela vizinhança e logo voltou para casa. À noite quando Pedro chegou, ela estava lendo uma revista. Ele nem mesmo lhe desejou boa noite, como sempre fazia, olhou para ela e disse com a voz gélida.

-- Não disse a você que não saísse de casa? Por que desobedeceu?

-- Apenas fui dar uma volta pela vizinhança.

-- Eu já lhe disse que agora você é minha. Não quero minha mulher se oferecendo por aí como se fosse uma qualquer.

-- Mas eu não fiz nada de mais, por que está tão bravo comigo?

-- Não estou bravo, apenas quero que você me respeite.

-- Mas meu amor, eu te respeito! Eu te Amo!

-- Então não me desobedeça mais e você só terá a ganhar.

Pedro subiu as escadas enquanto Ana chorava e sentia-se a mais infeliz das criaturas.Por um momento pensou, me casei com um monstro. Secou as lágrimas e foi até a cozinha. Encontrou a empregada terminando o jantar. Ana tinha ódio no olhar. Sabia quem a havia lhe entregado, queria poder mata-la, mas não deu o braço a torcer. E no âmago dos seus sentimentos pensou. Daqui pra frente, vou fazer a vida desta mulher um verdadeiro inferno. Se era uma inimiga que ela queria. Então conseguiu. E mandou que andasse rápido com o jantar.