Gotas de coração

Ao acordar percebi que o copo que estava sob a torneira transbordou. Engraçado, há dias estava ali e eu já havia desistido de ver aquilo acontecer, de ver a gota que faria a diferença entre o cheio e o excesso, fazendo o copo expulsá-la. Poderia ficar o dia inteiro observando o copo, mas voltei ao meu repouso, deitada inerte na felicidade de uma noite repleta de eu.

As pálpebras cerradas, então sonhei que acordava em um mundo novo, minto! Aquele mundo eu conhecia muito bem, lindo assim de filme não era , no entanto era puro coração. E quando falo de coração nesse mundo, esqueça todas as sua definições piegas. Ali corações eram inteiros e coloridos, não tinham dono, não eram entregues, alforriados para o abraço de outro coração . Não, não pense que isso os tornavam inescrúpulos, cuidavam muito bem uns dos outros. Naquele momento entendi tudo que acontecera, era necessário eu ter colocado o copo sob a pia, era necessário eu ter ficado acordada aquela semana inteira, depois daquele sono profundo. Era necessário que o cara que cuida do jardim lá fora esbarrasse na minha janela abrindo-a e o barulho me acordasse. E junto com esse abrir de olhos o coração voltasse a bater; mas que insanidade logo naquele momento eu querer jogá-lo pela janela. Era necessário eu deixar o copo encher até ver onde daria, era necessário eu dormir por mais algumas horas , não vendo nada do que estava ao meu redor; acordar só para ver a gota d'aguá sendo expulsa e aquilo não me interessar mais. Dormir.. e voltar para aquele mundo e ver o coração lá correndo, batendo e colorido de novo. Ah, como é espertinho eu em devaneios por te-lo jogado pela janela deixado-o no gramado frio do jardim e contudo ele voltara para onde nunca deveria ter saído: para aquele lugar onde cada toque o fazia mais forte.

Acordei, o riso era involuntário, meu coração tocava e a canção de letra maluca de alguma forma agradecia, agradecia sua libertação . De resto, o sol se escondeu, o inverno matou minhas margaridas, mas o coração canta feliz como nunca e todo resto não importa mais.