O MACAQUINHO ROSA

Quando ele a viu, vestida naquele macaquinho rosa, ficou imediatamente teso. Ele nunca soube bem por que, mas macacões e macaquinhos tiravam-no do eixo, davam-lhe pensamentos nem um pouco sacrossantos. Ela sabia disso e caprichou no modelo e na cor.

Era um macaquinho até simples, rosa-bebê e tecido fino, peça de dormir. Em qualquer mulher ficaria bonito. Nela, ficou fenomenal.

O rosa do macaquinho realçou a pele dela, quase um tom-sobre-tom, como dizem os estilistas. O tecido, macio, colou-se-lhe ao corpo e destacou as sinuosidades – o desenho ondulado dos seios, o volume das coxas, o quadril, o bumbum redondo-lindo, a força dos ombros, o vale onde, solitária e magnânime, habita a flor rara...

Foi uma visão idílica a que se aproximou dele e lhe sussurrou ao ouvido: “Para a nossa última noite como namorados. Gostou?” Ele ia responder, quando um beijo fundo o invadiu por inteiro, uma língua varrendo toda a sua vida. Dali em diante, os corpos passaram a ser um só, livres de tudo. E o macaquinho rosa ficou a um canto, com a sensação de ter cumprido o seu destino.