A ruptura

Olhou com um desprezo que beirava ao insulto.

Tomar uma decisão não é difícil, o que é difícil é se manter fiel a ela e, quando não se pode esquecer, deve-se evitar pensar. Era o que estava fazendo, pelo menos até aquele momento.

Diante dela estava o que chamava de personificação da decepção. Tinha nome, sobrenome, endereço e estava ali, embora um dos desejos mais ardentes que brotaram no fundo do seu ser, era o de nunca mais vê-la.

O mosaico de lembranças completou-se e a tensão foi imediata e absoluta.

Aquela pessoa a tinha ferido mais do que nenhuma outra chegou perto de fazer. Abusou de sua confiança, boa fé e a traiu de forma impensável. Havia ousado conjugar o verbo confiar e por isso sofria as consequências desastrosas desse ato.

Aquela pessoa tinha partido seu coração e nem sabia mais o que faria se tivesse tido mais alguns centímetros de espaço e agora, a olhava e sorria como se nada tivesse acontecido.

A raiva borbulhou e serviu de combustível para um sentimento que ainda não podia definir. Ficou irritada e desprovida de qualquer boa intenção. Foi assolada por uma ruindade inacreditável.

Respirou fundo e contou até onde podia, tentando acalmar uma força de natureza desconhecida e destruidora que estava na iminência de explodir.

Percebeu o que estava acontecendo quase tarde demais. Se por um lado estava a um passo de perder a cabeça, por outro estava reagindo finalmente, saindo daquela inércia na qual a dor a tinha jogado.

Seu coração doído e sedento de atitude gritava em protesto, mas conseguiu manter o controle diante daquela situação.

Ainda não podia perdoar e isso ficou óbvio, mas precisava libertar-se com certeza. Aquela pessoa e tudo o que vinha com ela lhe fazia muito mal.

Não queria falar, ver ou mesmo lembrar daquela existência porque seria como alimentar o que não queria sentir, transformar-se em um tipo de pessoa que escolhera não ser.

Talvez fosse impressão sua, mas tudo o que conseguia enxergar pendurado naquele sorriso era cinismo e deboche e por isso virou as costas, com uma falta de educação atípica e que não passou despercebida a ninguém, enquanto mentalmente atirava uma pedra tumular no que não queria nem como lembrança.