A ESPERA

A ESPERA

Desde que se casou com Joaquim sua vida tornara-se uma longa espera.

A espera pelo marido, todos os dias, que saia para o alto mar à busca do abençoado peixe para o sustento e seu ganha pão. E só voltava quase à noitinha. Era um longo dia de expectativa pelo seu retorno. Uma rotina há quase trinta anos.

Lembranças vinham-lhe à memória. O casamento proibido pelos pais e a fuga para consolidar o que seria um erro. Mas foi feito.

Agora estava ali. Pensativa. Pensava nos filhos Pedro e Fátima, gêmeos, que pela graça de Deus e pelo esforço deles não quiseram aquela vida de pescador e dona-de-casa, em uma vila de pescadores esquecida no tempo e sem futuro algum. Foram embora, apesar da contrariedade do pai, que os queria perto dele. Com muita luta e garra lutaram para vencer e superaram todas as adversidades, completaram seus estudos e atingiram seus objetivos. Por várias vezes vieram buscar os pais para morarem junto com eles. Joaquim jamais aceitou e Vilma não teve coragem de deixar o marido.

Esperar. Até quando? Não sabia de mais nada. Será que iria viver a vida de recordações e espera? Não vislumbrava qualquer mudança no seu viver. Já estava se conformando com a atual situação.

O dia amanheceu como qualquer outro. Muito calor e os pescadores saindo com seus barcos para mais um dia de trabalho. Joaquim despediu-se da esposa e partiu para sua eterna lida. Estaria de volta, como sempre, à noitinha. Vilma viu o marido entrar e seu barco e dirigir-se mar adentro.

Como sempre ia cuidar de seus afazeres. Todas as tarefas domésticas que estava acostumada a fazer e sem perspectivas de mudança.

As horas passavam devagar, com muita preguiça. Ao final da tarde saiu e, junto com as outras mulheres, foi esperar a volta do esposo e com tudo que conseguiu no dia. Os barcos foram chegando e os pescadores começaram a descarregar os peixes que conseguiram pescar, separando o que era para sustento da família e o que era para a venda.

Nunca havia acontecido do marido se atrasar e a apreensão começou a tomar conta dela. Pergunta para um e pergunta para outro, ninguém conseguiu explicar o que ocorrera com o Joaquim. Pescador experiente e cuidadoso jamais sofrera qualquer acidente, mas naquele dia seu barco não voltou.

Ia ser uma longa espera.

lmorete
Enviado por lmorete em 27/11/2012
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