A Dança do Piriri

Era uma vez uma festa…

Naquela sexta feira a festa era na casa da Dona Maria Francisca e Seu José Francisco, os dois já de idade bem avançada, mas muito animados. A vizinhança chegou em peso para o forró. O terreiro tinha sido varrido, iluminado com lâmpadas elétricas e enfeitado com panos coloridos.

Enquanto esperavam o sanfoneiro, Dona Chica serviu uma canjica especial. Era inverno, e naquele lugar normalmente quente, fazia um friozinho inesperado. Dona Chica, preocupada com o bem estar dos seus convidados, acrescentou um ingrediente a mais na canjica: uma pimentinha. Até Seu Zé Soldado, que estava indo para o serviço todo paramentado, deu uma passadinha por lá e provou da canjica.

Parece que a receita não deu certo. Meia hora depois começou uma correria para o banheiro, tava todo mundo apertado, faziam fila para se aliviarem da dor de barriga urgente.

Sorte do sanfoneiro, que foi o último a chegar e não provou da canjica. Vendo o alvoroço na casa, sentou-se num tamborete, papel e lápis na mão, ligeiro na rima, logo retratou a situação compondo um animado arrasta-pé. Muitas idas ao banheiro depois, a correria provocada pelos efeitos da canjica se acalmou, e finalmente começou a festa.

O sanfoneiro, depois de uma intrincada e rapidíssima série de acordes com a sanfona, atacou com a récem-composta “Dança do Piriri”:

É piriri, piriri,

Piriri, piriri

Culpa da Dona Chica, botou pimenta na canjica

Para o povo esquentar.

Só teve como resultado um piriri danado

E o povo a se embolar.

É piriri, piriri,

Piriri, piriri

Todo mundo no desespero correndo logo pro banheiro,

Para a roupa não borrar.

Uma situação que dava dó, pois banheiro tinha um só,

Era grande a fila prá tralalá.

É piriri, piriri,

Piriri, piriri

O povo se torce e se enrola, se aperta e rebola

pro piriri não desandar.

Tinha até um soldado, largou o capacete de lado

E foi prá moita se acocorar.

É piriri, piriri,

Piriri, piriri

- Olha aí, ó seu Chico, traz o penico do milico,

que eu quero me aliviar.

- Homem, tenha mais respeito, esse capacete do sujeito

não foi feito prá sujar.

É piriri, piriri,

Piriri, piriri

Segura esse piriri danado, o forró tá arretado

Não tem hora prá parar.

E o pessoal, depois do banheiro veio correndo pro terreiro

Botar o bucho prá ralar.

É a dança do piriri!

Eita canjiquinha boa, dona Chica, botou fogo no … pessoal!

O sol do sábado já despontava no horizonte quando a festa finalmente acabou. A “Dança do Piriri” fez o maior sucesso, e logo o povo tinha se esquecido do sufoco passado pelos efeitos da canjica. E todos voltaram felizes para suas casas…