FERNANDO

Fez-se o Fernando de felicidade, euforia, até aos dezoito anos de idade. O moço era só alegria, preciosa joia da família. Fino no trato com estranhos, traquejado no tratar com as pessoas, Fernando, gentilezas de gente boa e feliz, tecia seu futuro em um escritório de contabilidade, contabilizando sonhos, buscando liberdade, querendo construir o caminho para ser dono de seu próprio nariz...

Desdita destoa de sua vida, desvia o Fernando de sua estrada que era tão boa... Falange de farsantes, falsos amigos, drogados e traficantes...

O descaminho das drogas... Destino atroz, feio, cheio de amarras, garras e nós; um mundo sem voltas! Sinistra sua sina, sua sofrida e selada sorte, cruenta, violenta, cruz, prisão, solidão e morte!!!

Feliz o Fernando nas pescarias no Mato Grosso, o moço um colosso de amigo, um amigão; temente a Deus, todo dia, padre-nossos, ave-marias ao cair do dia, sua magia e devoção... Cristão, católico por convicção, bom coração; Fernando um futuro pela frente...

Como doía na gente, sua demência, sua perdição? Dor pungente de cortar o coração! O dengo do vovô, o xodó da vovó, o chamego da família, o queridinho do coração, o amor de tantas vidas... aprisionado, torturado, despersonalizado, liquidado pela armadilha das drogas? Maldição de um mundo cão!!!

Um suplício ver o Fernando lutar contra o vício... Sua demência na abstinência... Tudo em vão! Incentivado por falsos amigos que prometiam fugazes e falsas euforias, finas e funestas fantasias... A maconha, a cocaína já não lhe serviam, buscou ansioso, algo mais poderoso, o crack, calvário final de sua vida!

Fernando afundou-se tanto, tanto nas drogas que já não pôde mais sair do poço... O moço, sentenciado de morte, afastou-se da família, seguiu sua trilha, sua insana sorte.

Maldita madrugada, malignos inimigos. Traficantes, bandidos, usuários ou mandados? Crime encomendado?

Vento vadio, calafrio; a vida por um fio.. Nó no coração. Aflição, premonição?

No sus do susto de um segundo, surpreendendo o silêncio do mundo e o lusco-fusco da fria madrugada, a faca, ferramenta peçonhenta, cortante, afiada, reluzente na mão de um demente... fístulas, feridas, fissuras, profundas fendas no Fernando... Costas cabeça, pescoço, coração... O sangue quente escorrendo ao chão... Vinte facadas! Fim de uma vida crucificada, destruída pelas drogas!!!

Fernando, mais um Cristo crucificado pelo imundo mundo das drogas, Cristo anônimo como tantos outros, sem adereços e endereço, vítima de um mundo maluco, maldito e cão, de corruptos, traficantes, drogas e destruição!!!

Lazaro Faleiro
Enviado por Lazaro Faleiro em 23/12/2012
Código do texto: T4049737
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.