Eu que ainda amo você

Ricardinho gostava de Clara que sentia tesão por André que era apaixonado pela Gisele, e a Gisele adorava o Cris. Cris tinha loucura por mim, que sou ainda encantada pelo Xande, que era fiel à namorada, mas sentia alguma coisa por mim.

E eu ficava choramingando pelo apartamento, agarrada no meu gato Saddam. Meus pensamentos estavam sempre com o Xande, que me olhava de cantinho, fazia que vinha mas não vinha e eu não entendia mais nada.

Aí o Cris que tem loucura por mim, um dia me ofereceu um buquê de rosas vermelhas e o meu coração deu uma balançada. Então o gato Saddam, que tinha ciúmes do Xande e do Cris, devorou minhas flores tão belas que estavam placidamente arranjadas em um vaso sobre a mesa da sala de estar.

Depois de ter sido quase enforcado, o gato Saddam desapareceu lá de casa. Fiquei sozinha. O Xande eu já nem tinha. O Cris, sabe-se lá porquê, convidou a Gisele para sair. Quem apareceu para me consolar foi o André e nos descontraímos tanto e tão bem que passamos a noite inteira juntos e mais um pouco do outro dia também.

Mais tarde bateu lá em casa minha amiga Clara, me despejando desaforos boca afora, porque o André tinha que ser dela e de mais ninguém. Tive vontade de esganar o Ricardinho, aquele fofoqueiro de primeira, que possuía por hobby espionar o meu apê e, mais tarde, descobri que ele estava escondendo o meu gato Saddam, o devorador de flores.

O Saddam voltou para casa sozinho, com os olhinhos verdes brilhando de saudade e eu fiquei pensando, enquanto agarrada no meu bichano, nos olhos verdes do Xande e nos olhos azuis da namorada dele… e quem sabe se eu pintasse meu cabelo de loiro e arrumasse umas lentes de contato azuis também? Será que o Xande largaria a namorada para ficar comigo para sempre? Foi uma idéia tão incrivelmente inteligente, que comprei uma tintura loiro superdourado-claro-acinzentado-ultra-intenso, sem amoníaco. Prometia maravilhas para quem usasse. Acreditei. Eu ainda nem tinha chegado em casa. Vinha pela calçada, quase saltitante, segurando como um troféu a minha tintura. Foi quando o celular tocou. Era a maluca da Clara me contando que o Xande havia largado a namorada. Alegria total. Soltei mais fogos de artifícios que em noite de Reveillon. Horas mais tarde, visual renovado, blonde total, confiante e com mil estratégias de conquistas na cabeça, meu celular tocou de novo. Era a Clara, a perversa, gargalhando. Tinham visto o Xande de mãos dadas com o Ricardinho, o fofoqueiro. Me agarrei no gato Saddam - que ainda não tinha assimilado meu novo look - e chorei tanto até que murchei e sequei.

Menos mal que o affair da Gisele e do Cris não durou um jantar e ele me presenteou com uma caixa de trufas recheadas com leite condensado e que – graças a todos os santos - não foram devoradas pelo Saddam. Fiz que esqueci o Xande, mas não esqueci. Mas, por via das dúvidas, casei com o Cris. Só não me perguntem se eu estou feliz.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 09/03/2007
Reeditado em 25/05/2013
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