Um Amigo especial...

Um novo "Marley & eu". Acredito que este seja um bom nome para isso que vão ler. Esse mês, diferente dos anteriores em que tento contar algo divertido ou reflexivo que tenha ocorrido comigo, preferi fazer diferente. Prestar uma homenagem a um amigo, que creio que muitos que estejam lendo já tenham tido um.

Dizem que cachorros são os melhores amigos do homem, e disso não penso diferente. Talvez, mais que amigos; aqueles que independente da hora, estarão ali, para nos ouvir e acompanhar; e através de suas ações, manifestarem desagrado ou não em relação àquilo que estejamos fazendo. Colocamo-nos como a raça superior, em que conseguimos dominar o meio e não sermos dominados por nenhum outro ser. Acreditamos ser “donos” destes singelos animais, mas na verdade creio que seja o oposto. Eles é que nos escolhem, e criam uma relação de tamanho afeto, que nos envolvem no primeiro contato. No primeiro latido, nas primeiras passadas, seja como for eles se tornam peças indispensáveis em nossas vidas, conseguindo fazer reavivar aquela doçura infantil, até então esquecida pelos inúmeros afazeres do nosso dia-a-dia.

Eu tinha um amigo assim. Ele se chamava Pepe, um nome que na verdade não sei nem de onde veio. Nasci e ele já estava na família. Na verdade nem morava comigo, mas com os meus avós. Porém, pela frequência que os visitava, posso considerá-lo, em parte, como meu.

Nunca pude ter um cachorro e nem por isso posso dizer que fui uma criança frustrada. Problemas de saúde, que só o passar dos anos poderiam solucionar haviam me impedido na realização desse sonho. Uma vez por semana, frequência que visitava meus avós, não desencadearia com tanta força a crise alérgica que possuía.

O tempo se passou, a adolescência chegou, a doença se foi e o sonho infantil de “ter“ esse animalzinho foi caindo no esquecimento, pois Pepe já havia ocupado esse espaço.

Creio que posso atribuir a ele, alguns dos melhores anos da minha vida. Esquecíamos que ele era um cão e o tratávamos como se trata um ser humano. Não que ele fosse ao banheiro, sentasse-se à mesa ou comesse com talheres na maior elegância. Refiro-me apenas às nossas brincadeiras. Era o primo a mais, a carta que faltava nesse grande baralho que é a vida em família.

Esconde-Esconde, por exemplo, era a nossa favorita. Amarrávamos a coleira e o escondíamos conosco. Ele nunca nos entregou, acredito que ficava até mais em silêncio do que nós mesmos. Já que riamos quando a pessoa que estava contando seguia para o lado oposto ao qual nos encontrávamos.

As mesas do café da tarde, sempre foram palco para nossas armações. Por de baixo das toalhas o cãozinho se deliciava com as “gordas” partes de comida que destinávamos a ele. Em dias de chuva o colocávamos para dentro, sem a percepção dos meus avós, é claro. Já que eles não gostavam que ele ficasse espalhando pêlos pelos cantos da casa. Ele era, sem dúvida, o nosso primo de quatro patas.

A vida é como cantava Elis Regina: “Um rabo de foguete”. O tempo passa, ficamos ligados a essas geringonças tecnológicas e muitas vezes esquecemos-nos de aproveitar momentos com amigos como esse. Vivemos nesse mundo descartável onde tudo é substituível, em que o dinheiro compra tudo e a futilidade vem acima de nossas verdadeiras virtudes. Mais do que máquinas, que nada sentem, somos seres humanos que precisam afeto e carinho. Meu amigo se foi, nesta última note de Natal, pode parecer mentira, invenção, mas diferente de muitas histórias que aqui vos escrevo essa é verídica. Apesar da dor da perda, hoje posso afirmar: que tive um amigo especial...

Vinícius Bernardes
Enviado por Vinícius Bernardes em 12/01/2013
Código do texto: T4080212
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.