O que foi que eu comi?

A noite já estava no seu final. Paulo estava já mais para lá do que para cá. O seu Inter tinha perdido pro Corinthians e o desespero estava tomando conta da sua vida. Estava arrasado e como todo o homem arrasado tinha se entregado a cerveja.
Já eram quase três horas da manhã, sua cabeça estava girando e um peso subia do estomago até a garganta informando que estava na hora de parar. Ele levantou e abraçou um por um dos amigos que ainda estavam no bar. Depois largou algumas notas de dinheiro na mesa e gritou:
- Essa é a minha parte do prejuízo.
Os outros riram, gritaram e seguiram tomando a saideira que já estava sendo trazida pelo garçom desde que o jogo acabou. Paulo ainda olhou para os amigos da porta com uma vontade de participar de mais aquela saideira, mas viu que não era a coisa certa a fazer e por isso saiu.
Chegou ao estacionamento onde estava seu gol ano 2003. Primeiro desligou alarme e quando foi abrir a porta, derrubou a chave no chão. Quando pegou novamente deu de cara com uma loira de mais ou menos um metro de setenta e cinco, dentro de um vestido branco apertado.
- E ai anjo loiro?
- Oi. Parece que você bebeu demais.
- Não muito. O Inter perdeu, se eu pego aquele juiz filha da puta eu mato.
- Eu preciso de uma carona. Você me da uma carona?
- Te levo pro céu se você quiser meu anjo. Você bebeu hoje?
- Hoje não.
- Então toma a chave e me leva para onde você quiser.
Ela riu, pegou a chave e ajudou ele a entrar no carro e depois dirigiu. Enquanto o carro trafegava, Paulo espiava de canto de olho para as pernas da loira ao seu lado. Em alguns momentos ele discretamente olhava para o decote que deixava seus seios gritando de vontade de saltar para fora.
Na mente de Paulo somente uma coisa podia surgir. Meu Inter pode ter perdido hoje, mas eu vou ganhar e vou marcar um golaço. Ele estava imaginando em como iria contar aquela sorte para os seus amigos no outro dia, quando o carro parou.
- Porque paramos?
- Porque aqui é a minha casa.
- Hum...E agora?
- Agora nos vamos subir e terminar a noite no meu apartamento.
- Podemos até subir, mas eu tenho que te perguntar uma coisa?
- Pergunte.
- Para que time você torce?
- Pro Inter claro, por isso eu estava no bar vendo o jogo e fiquei esperando você sair.
- Você viu que aquele juiz filho da puta roubou de nos de novo?
- Vi. Agora vamos subir e chorar as mágoas juntos.
Paulo subiu. Ele nem podia acreditar no que estava acontecendo. Um homem de quarenta anos, separado da mulher, falido por um divórcio e trabalhando como contabilista numa repartição pública não esta acostumado com as mulheres lhe sugerindo sexo fácil. Ainda mais se tratando de uma loira como aquela.
A noite foi uma loucura. Pelo menos nos instantes em que Paulo conseguiu permanecer acordado. Na manhã seguinte quando ele acordou levou um susto. “Puta merda onde é que eu estou fazendo aqui porra?”
Aos poucos foi se localizando e lembrou da loira da noite anterior. Levantou, achou a calça e as cuecas no chão e camisa do Inter em cima da penteadeira. Vestiu-se e foi em direção a sala. Ouviu um barulho da cozinha e correu para lá, queria saber se aquela loira poderia lhe dar esperança de uma nova noite.
- Oi amor.
Foi ela quem falou primeiro. Paulo olhou e esfregou os olhos. Estava paralisado. Não sabia se saia correndo pela porta ou se jogava pela janela:
- Oie, quem é você?
- Meu nome é Margarete, e antes de qualquer coisa a nossa noite foi maravilhosa.
“Ai meu Deus, o que foi que eu comi?”, foi os primeiros pensamentos que vieram a mente de Paulo. Aquela não podia ser a mesma mulher da noite anterior. Aquela era um pitélzinho, de pernas longas e seios fartos. Essa era velha, devia ter uns cinqüenta anos, tinha a pele toda murcha e os seios estavam mais desanimados do que ele.
- Você foi muito legal.
Foi a primeira coisa que Paulo pensou em falar. E depois esfregou novamente os olhos e concluiu:
- Preciso ir. Estou atrasado. Tenho que trabalhar. Tchau? Eu te ligo.
Paulo saiu correndo pela porta, entrou no elevador e correu pro gol 2003 que estava estacionado na frente do prédio.
- Droga, eu nunca mais vou beber, que porra, nunca mais vou beber.
La em cima no prédio a velha olhava pela janela. Depois que o gol arrancou, ela gritou:
- Filha pode sair, ele já se mandou.
- Deu certo?
- Claro, da sempre certo.
- Este era muito fanático por futebol. E ainda por cima era muito fácil. Droga não estou com sorte, ele só tinha quatrocentos na carteira.
Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 04/02/2013
Reeditado em 16/02/2013
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