Outro ponto de vista

Esta é a última vez que eu vou olhar o pôr do sol. A partir de amanhã, é ele que vai olhar para mim.

Desde pequena eu moro nessa casa, durmo e acordo olhando para o mesmo teto, almoço, janto e vejo televisão entre as mesmas paredes, giro as mesmas maçanetas, piso no mesmo assoalho. Olhava pela janela da sala e via as mesmas casas. Agora as minhas tralhas estão devidamente arrumadas em malas e eu vou me mudar.

Até parece que vou fazer uma longa viagem... na verdade, estou me mudando para a casa da frente, onde minha amiga Deborah mora. Mudança despropositada, não? Não. Meu padrinho está indo para São Paulo a trabalho e eu não posso simplesmente mudar de estado e de escola no meio do ano. Não ia dar certo. Além disso, nossa vida ia ficar uma zona nos primeiros meses. Ele vai morar num hotel.

Então ficou acertado que eu ia me mudar para a casa da minha melhor amiga e ficar lá até ele arrumar uma casa. Somos como irmãs. Dividimos roupas, livros, discos... só não dividimos namorado ou ficante porque não ia dar muito certo. Ela tem pôsteres do Hanson espalhados pelo quarto inteiro, e eu não consigo dormir sem olhar pro pôster enorme do Joe Perry que fica (ou melhor, ficava) pendurado bem na frente da minha cama. Depois a gente vê como é que fica.

Agora é hora de ir. Até parece que ouço as paredes se despedindo: “Adeus, Karen... até outro dia!” Ora, não dizem que paredes têm ouvidos? Então por que elas não podem ter voz? Se eu disser que ouço paredes vão dizer que eu sou maluca, e isso é outra história. E eu vou gravar bem esse pôr do sol, porque se eu quiser vê-lo de novo, vou ter que atravessar a rua...

Evana Ribeiro
Enviado por Evana Ribeiro em 08/08/2005
Código do texto: T41250
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