A mulher mais poderosa do mundo

Me acordei feliz. Espreguicei-me, bocejei, estiquei as pernas... Enfim, sábado. Dia de não fazer nada, de pôr a dieta para correr, de ler aquele livro que você não tem tempo porque a vida anda corrida demais.

Segunda-feira! Meu Deus, eu havia sofrido um lapso temporal! Eu estava em plena segunda-feira! As imagens daquela reportagem do Fantástico ( e o Fantástico só passava aos domingos) sobre lipoaspiração vieram a minha mente assim que eu olhei para a minha barriga. Nossa, eu tinha que trabalhar e estava atrasada. O doutor João Carlos, meu chefe, teria aquela reunião difícil com os cariocas logo às nove horas da manhã. E o meu despertador me encarava dizendo que faltavam cinco minutos para as oito horas. Céus!

Saltei da cama, tropecei no gato, levei uma unhada, mas cheguei em pé ao banheiro. Uma ducha fria seria o suficiente para me acordar. Tudo correu bem, sem contar o fato que o meu sabonete líquido espirrou para dentro do meu olho e tive que passar cinco minutos adicionais dentro do chuveiro tentando fazer com que aquela ardência terrível cessasse. Enfim, com um olho vermelho e o outro não, saí do banho, sequei-me de qualquer jeito, passei um creme no cabelo para ver se pelo menos naquele dia baixava o volume dos cachos e me vesti. Nem comi nada. Se eu chegasse um segundo atrasada, o doutor João entraria em surto psicótico e nem uma camisa de força para segurar aquele homem. Lá fui eu.

Mal pus o pé na calçada e veio uma rajada de vento que terminou de me descabelar. Meu cabelo crespo deveria estar em pé quando entrei no ônibus. Amaldiçoei o ordinário do mecânico que só me enrolava e não conseguia encontrar o defeito do meu carro. Fui sacolejando sem nenhuma elegância por trinta minutos até chegar na empresa. O meu reflexo na porta de vidro da entrada me fez ver que eu precisava de uma escova progressiva urgente. Mas tudo bem. Apesar do meu estômago gritar por comida, entrei na sala do doutor João Carlos pontualmente às 8:53, depois de ter passado no banheiro e enfiado a cabeça dentro da pia para amansar os cachos. Ufa, o chefe ainda estava calmo.

A reunião foi normal, apesar de eu ter derrubado uma xícara de café em cima de um dos cariocas. Felizmente isto não alterou o resultado positivo da reunião. Deu tudo certo. Mas passei o resto do dia ouvindo piadinhas por causa da mancha de café nas calças de linho do cara. Que colegas bem chatos, por favor! Atire a primeira pedra quem nunca derrubou uma xícara de um líquido quente que mancha acidentalmente em cima de outra pessoa.

Na hora do almoço, enquanto as minhas magras colegas comiam e se lambuzavam com massas e lasanhas, eu lembrei da reportagem do Fantástico e da minha barriguinha e resolvi passar a alface e tomate. Refrigerante, só o light. Mas aproveitei quando ninguém estava olhando para me avançar em cima de um brigadeiro e enfiei tudo goela abaixo, feito uma louca compulsiva. Nem saboreei o doce direito.

De tarde, o assistente do doutor João Carlos voltou de viagem. Todas as mulheres suspiravam por ele, o Gustavo. Alto, moreno, olhos azuis... um fofo. Eu cheguei a sair com ele umas duas vezes, mas só ficou nisto. Sexo e amizade. Acho que foi porque eu comecei a falar que adorava crianças. Afugentei o cara! E agora uma aliança dourada brilhava na mão direita dele. Decepção total. Hora de partir para outra. E eu estava sempre partindo para outra. Quase na hora de eu ir embora, o doutor João sofreu um surto psicótico, o primeiro do dia e ainda bem que o dia estava acabando. Não fiquei para ouvir os desdobramentos. Peguei minha bolsa e fugi.

Resolvi entrar em uma academia não muito longe da empresa, numa tentativa desesperada de eliminar meus pneuzinhos infernais. Era uma academia toda fresca, cheirando a nova ainda e com uns instrutores que benza Deus! Era lá mesmo que eu iria treinar. Me matriculei em cinco minutos, comprei as roupas estilosas da academia ali mesmo na lojinha e fui convidada a fazer uma aula de spinning. Cinqüenta minutos depois eu estava voltando de táxi para casa, exausta mas feliz. Com fé, passei a mentalizar meu corpo com uma barriguinha tábua e namorando um daqueles instrutores ma-ra-vi-lho-sos. Sim, amigos, agora vai. Me aguardem. Em pouco tempo, eu serei a mulher mais poderosa do mundo.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 17/03/2007
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