O PÁSSARO DE MAU AGOURO = EC

Mary e Nélio se casariam em breve e as amigas se reuniram para o costumeiro chá de cozinha.

Tudo era alegria, mas de repente uma grande ave preta muito estranha pousou na janela.

As meninas gritaram e a ave, assustada, soltou um silvo agudo, deu uma volta voando sobre a sala, saiu de novo pela janela e desapareceu.

Passado o susto começaram as brincadeiras:

— Esse bicho está parecendo uma ave de mau agouro!

— Que será que vai acontecer?

— Será que a Mary vai tropeçar nos degraus do altar?

— E se ela tiver diarreia na hora da cerimônia?

— Será que o Nélio vai falhar “na hora”?

Ninguém percebeu, mas Mary ficou muito impressionada. Será que ia acontecer alguma coisa para impedir seu casamento? Será que ia acontecer algum incidente desagradável na festa? Será que ela e Nélio não iam ser felizes? Não teriam filhos? Teriam filhos anormais? ...

E por ai afora. Tudo perdeu a graça para ela.

No dia seguinte contou o ocorrido para o Nélio e para sua surpresa ele não deu a mínima importância ao caso.

Riu:
—Eu queria ver o escândalo que vocês fizeram! Coitado do pássaro, deve ter ficado tonto!

—Você está brincando porque não viu o bicho. Era enorme... horrível...

—Um corvo!

—Não! Não era um corvo, não era nenhuma ave conhecida, acho que era mesmo um pássaro do outro mundo...

—Que bobagem, meu amor, há muitas aves silvestres invadindo a cidade porque o habitat delas foi invadido pelos homens. Pode ser até alguma espécie em extinção. Eu gostaria de ter visto.

—Dizem que pássaro preto dá azar. Se dizem é porque deve haver alguma evidência.

—Tudo besteira!

Mary não falou mais no assunto, mas continuou preocupada.

Todas as noites sonhava com o pássaro, ora sobrevoando o altar na hora do seu casamento, ora querendo bicá-la.

Não dizia nada a ninguém, sentia certa vergonha, sabia que estava sendo boba, que devia curtir aqueles dias felizes, mas, qual, o pássaro gigante parecia rondá-la o tempo todo.

Durante o dia era invisível, mas ela sentia sua presença e a noite povoava os seus sonhos.

Cada vez reforçava mais a sua preocupação. Todos notavam seu nervosismo, mas não imaginavam qual fosse a causa. Seria a preocupação com o casamento? Com a lua de mel?

A mãe começou a “ver fantasmas”. Ela sempre achou que o Nélio não era o marido ideal para a filha. Aceitara o casamento e estava preparando uma grande festa, mas seu coração de mãe “sabia” que a Mary ia fazer uma grande bobagem. Agora parecia que tinha caído a ficha e ela estava vendo a realidade. Infelizmente, tarde demais.

Nélio notou o nervosismo, a tristeza que de repente se apossara da noiva sempre tão alegre e entusiasmada. Será que ela estava arrependida? Será que não queria mais casar e não sabia como desistir a estas alturas?

Desabafou com a mãe que também não gostava muito da Mary

: —Eu bem disse que esse casamento não ia dar certo.

E ele, sempre muito influenciado pela mãe, começou a pensar que talvez fosse melhor não casar.

— Está em tempo, filho. É melhor desistir do casamento agora do que separar-se depois ou, o que ainda é pior, ficar o resto da vida infeliz.

—Também não é assim, Mãe, eu... amo a Mary...

Assustou-se com suas próprias palavras. Parecia não ter mais muita certeza disso.

É claro que ninguém mais se lembrava do pássaro. Na ocasião todos acharam graça e logo esqueceram. Não podiam imaginar que a transformação da Mary fosse por isso.

Faltavam poucos dias para o casamento quando saiu a remoção do Nélio para uma cidade distante

Era uma oportunidade que ele esperava há muito tempo, uma melhoria significativa na sua carreira. Não podia deixar de aceitar.

Estava ai a desculpa para adiar o casamento.

Disse que era melhor adiar... Esperar um pouco mais até que ele se acomodasse na nova cidade...

Foi um transtorno. A festa suspensa, os convidados avisados, prejuizos, vexames  e aborrecimentos sem conta.

E aconteceu o que todos previam. O Nélio não deu mais sinal de vida.

E o coitado do pássaro que, perdido, fora parar no meio daquela festa, foi apontado pela Mary como o culpado de tudo.

E, pensando bem, foi mesmo...


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Maith
Enviado por Maith em 01/04/2013
Reeditado em 01/04/2013
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