Confiança

Acreditar que devemos confiar cegamente em alguém, é garantir-nos mágoas e decepções. Lembrei agora, de uma amiga de infância. Conheceu o namorado com quem casou, no colégio. Tinha 16 anos, ele 20. Namoraram durante dois anos, noivaram mais dois e casaram, num clima de confiança, cumplicidade e muito carinho.

Ainda na fase do namoro, combinaram, por iniciativa dele, (era sempre ele que tinha as idéias, ela tinha que concordar), que sempre seriam absolutamente sinceros um com o outro.

Ela achou engraçado quando ele falou que se algum dia, um homem tentasse seduzi-la, ela deveria contar a ele. Ele entenderia até, se ela quisesse “experimentar”! Melzinha, coitada, acreditou. Mas, para ela, Francisco era perfeito. E ele também acreditava piamente que era assim.

Os anos passaram, Melzinha ocupava um cargo mais importante, na empresa em que trabalhava, tinha contato tanto com homens, como com mulheres, das mais diferentes classes e cultura. Era muito benquista e conquistara vários admiradores. Ela nunca havia cogitado de se envolver com ninguém. Amava o marido, os filhos. Tinha dois meninos, já adolescentes.

Pensava neles, no exemplo que dava, através de suas atitudes. Às vezes, era um tanto coquete, mas cortava assim que percebia que poderia levar a conseqüências indesejáveis para sua estrutura emocional.

Assim, sempre confiando na boa fé de Francisco, quando um novo colega começou a paquerá-la ostensivamente, gerando alguns cochichos entre os colegas, ela decidiu falar com o esposo, antes que esses cochichos pudessem chegar a ele, através de alguém mal intencionado.

Melzinha viu seu ídolo desmoronar. Não esperara jamais, a reação que Francisco teve. Esbravejou, culpou-a, acusou-a de estar “louca pra sair com ele”. Primeiro, ela ficou sem fala, olhos arregalados sem entender onde ficara a confiança que ele dissera ter por ela. Sentiu-se traída, pela primeira vez. Francisco jamais dera qualquer demonstração de sentir ciúmes dela e agora reagia dessa maneira.

Melzinha entristeceu, a partir daquele dia. Percebeu que as promessas trocadas, só tinham valor, enquanto nada acontecesse que as pusesse à prova. Desiludiu-se e, pouco a pouco, o amor que sentia por Francisco, foi amornando. Não conseguia perdoá-lo, não por não ter entendido a situação, mas pela acusação que fizera a ela. Deixara claro que não confiava nela e, principalmente, que não a conhecia, apesar da convivência de tanto tempo. Era o que mais doía.

Tentaram durante algum tempo, reconstruir o casamento, mas o cupim da desconfiança conseguira atingir o alicerce. Melzinha tomou a iniciativa. Separou-se de Francisco, 10 anos depois. Abriu seu próprio escritório de advocacia, os filhos, já formados, trabalham com ela. Teve alguns namorados, mas ainda não se considera pronta para um novo relacionamento sério.

Francisco casou novamente. A esposa não trabalha fora. Cuida do jardim, dos cachorros, faz as compras do supermercado, cozinha... Uma perfeita dona de casa.

23/03/2007