Até No Lixão Nasce Flor

“Quem te viu quem te vê”, ditado popular sempre carregado de inveja, as vizinhas não perdem a oportunidade. Mas é a verdade, Bianca hoje é uma exceção, conseguiu fugir de um destino já provável, surpreendeu mesmo. As quatro irmãs já tiveram filhos, engravidaram na adolescência, e segue o caminho da mãe. Observando os erros, ela está trilhando outra rota.

Sua mãe vai buscá-la num ponto uma meia noite e pouco, e as quatro da matina ela esta levantando. Tem pouco tempo para descansar, já faz uns anos que esta nessa rotina: trabalho, faculdade e cama.

Sempre foi uma moça dedicada ao estudo, fez diversos cursos, mas sempre ela que corria atrás, não esperava por ninguém. Foi assim que entrou num cursinho pré-vestibular, prestou em uma faculdade e conseguiu uma bolsa em um curso de advocacia. Já está estagiando na área.

O começo da faculdade foi muito pesado, sentiu o peso da falta de uma boa escola pública e a indiferença dos outros alunos por ela ser bolsista, quase desistiu. No final do semestre sempre batia uma deprê na volta no trem. Passava mó larica na faculdade, só tinha dinheiro para condução do trem, quando sentia o cheiro do yakissoba a barriga roncava. Tinha dia que a tiazinha do hot dog lhe dava um lanche que havia feito errado. Bianca acostumou a sempre passava em frente esperando ganhar, era uma vez ou outra que ganhava, mas jamais pediu a ela.

No começo da adolescência ela tinha vergonha de sua mãe – A velha parecia uma louca, com um monte de filho, maltrapilha e barraqueira. Foi nessa época que passaram pela pior fase, mãe desempregada, o pai de um dos seus irmãos havia deixando a casa, a casa começou a viver de fé e bondade travestida de esmola.

Tiveram que pedir comida de casa em casa. Bianca uma vez recusou ir às casas, levou um tapa na cara de sua mãe. Não poderia pedir justamente naquela rua, pois ali moravam suas amigas de sala, não tinha coragem de bate porta, não teria cara para aparece na sala se pedisse: “minha mãe tá desempregada e somos em 7 irmãos menores, você não teria 1 kg de feijão, arroz ou fubá, qualquer ajuda serve!”.

Não guardou magoa da sua mãe por causa do tapa, compreendeu hoje que a atitude da mãe foi um reflexo do desespero de um chefe de família a beira do precipício e que ela era uma vitima de um país de desigualdade gritante, e na época Bianca tinha outro motivo: pior que um tapa na cara é pedir comida de casa em casa.

Como diamante ela saiu do barro, foi lapidada pelo seu próprio suor. O sol não nasceu pra ela, mas sentiu os raios solares pela fresta do barraco. Sempre vai ter alguém pra desmerecer: “facu de fundo de quintal”; “eu quero ver passar na OAB”; “o que não falta é advogado”. Para nossa vitória ninguém bate palma.

Se tivermos uma visão pelo macro, iremos nos perguntar cadê a vitoria, pois ela vive uma vida precária ainda, cheia de dificuldades. Mas olhando com mais sensibilidade as mudanças em sua vida, Bianca é a primeira da família em um curso superior, tendo um grande desenvolvimento como pessoa. Ela adora uma frase de uma musica (Bethânia – Sonho Impossível) que num sai do seu mp4, acredita que sintetiza sua luta: “E o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão”.

Danilo Góes
Enviado por Danilo Góes em 25/04/2013
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