A rebel girl.

Ela foi criada em uma igreja, mas aos oito anos de idade estava beijando outras garotas; mas isso se explica pelo fato de seu tio gostar de tocar-lhe impropriamente quando era menor.

Aos nove ela descobria como era ser humilhada por todos os colegas de sua escola; ela aprendeu a sentir gosto amargo do desprezo muito cedo.

Com dez anos ela estava deixando a cidade para ir morar com os pais, e se assustou com o novo mundo que descobriu longe da casa dos avós. Pela primeira vez se sentiu em ‘casa’ e isso lhe parecia bom.

Pintou os cabelos de uma cor extravagante, metalizou as roupas e começou a gritar com a mãe que não a deixava escutar Rock ‘n Roll. Ter doze anos não a agradava, pois seus pais só sabiam lhe dizer que tudo o que ela gostava era do diabo, e num exorcismo forçado, eles a trancavam dentro de um casulo aonde pensavam que só Deus poderia entrar.

Um ano e meio depois começou a levar uma vida dupla para evitar maiores conflitos no inferno particular que era a sua casa. Na frente dos pais uma auréola brilhava sobre sua cabeça, mas longe deles ela continuava a ser a mesma ‘Rebel girl’ que beijava todas as amigas e falava mal do deus que sua mãe insistia em dizer que era Deus.

Aos catorze, lembrou-se de um sonho antigo e percebeu que tudo o que queria do seu futuro era estar em um palco cantando as histórias que ela sabiamente transformava em músicas, mas seus pais nunca aprovariam, ela sabia disso, por isso guardou para si. Também aos catorze, se apaixonou pela garota errada que já tinha um namorado. Para descontar sua ira, cortou-se, gritou, chorou, compôs e cantou, e pode então perceber que sofrer ao menos servira para alguma coisa.

Com amaldiçoados quinze anos, ela tinha que fugir dos garotos estúpidos que a cercavam como abutres, mas ironicamente, depois de tanto correr, ela caiu de joelhos diante de um garoto. No entanto, este era diferente. Ele a conquistou. Fato inédito na sua vida. Ela pensou estar apaixonada. Aliviou-se ao saber que apenas o amava, e que ele era o melhor amigo que poderia encontrar. Formaram um casal; ingressou num namoro improvável, mas totalmente perfeito: ele era gay, e ela, lésbica. Não havia como ser melhor.

À beira dos dezesseis ela decepcionou os pais conservadores, ao revelar que não seria nem parecida com aquilo que eles idealizaram para ela. Como consequências, seus malditos pais interviram covardemente em sua vida e lhe afastaram de tudo e todos que amava, e infelizmente ela teve que apagar dezesseis velas com suas lágrimas, pois não estava no abraço do único que ela amava.

Ela sangrou. Sangrou muito, mas remontou-se e se reergueu, mais forte do que nunca. Tinha toda a coragem de desobedecer às regras que lhe haviam sido impostas, então, todas as segundas-feiras ela fugia, por vinte minutos, da sua angustiante rotina, só para cair no abraço daquele garoto que havia a conquistado.

Ela não sabia o que viria a seguir. Não imaginava como estaria a sua vida quando tivesse dezessete anos, e não se esforçava para imaginar. Agora ela havia descoberto suas asas, e não haveria mais nada capaz de lhe prender no chão. Ela havia nascido para ser pássaro, e ninguém iria lhe impedir de ser.

Ingridy Oliveira
Enviado por Ingridy Oliveira em 25/04/2013
Reeditado em 25/04/2013
Código do texto: T4259037
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