Conversando irrefletidamente com as cadelas...

Exausta!

De quê?

De pensar.De fumar.De beber.De falar.De ler.De ser.

Exausta de exercer autodomínio(que é isso?) enorme para não usar de conversa irrefletida com minha amiguinha(no sentido de pouca idade),que veio até mim e isso posso afirmar com certeza(toda) e humildade,por me amar e querer bem.

Domingo será comemorado o dia das mães(e mãe lá precisa disso),e meu presente foi essa visita.Como?E seus quatro filhos?Enquanto meu filho amado segundo me chama ao celular chorando(acabooooooooou mãe) e eu não consigo chorar com ele(endurecida e maléfica), mas com o coração apertado que nem consigo mais deitar e dormir como costumava fazer,(o pensar aflora).São tantos medos,tantos receios,será que é o tal do juízo,o tal do remorso,a tal da crise dos quase cinquenta?

O medo e a pressão que por estar envolvida em questionar Deus e ao mesmo tempo semear dúvidas nas mentes(as vezes entre discussões enormes e penosas)e sei que não posso,são só crianças e acreditam em Deus.

Meu cotidiano tem sido excessivo em culpa.O fato de quase com certeza saber que as coisas podem dar certo e meus segredos horrendos serem revelados em situações inesperadas me deixam em alerta total.

Desesperadamente tentando controlar a minha língua,para não iniciar descontroladamente situações que fugirão ao meu controle e minha realidade.Quero destaque?Por meio de minhas palavras?Então porque a sensação de fracasso e falsidade?Porque o vazio e a solidão?

Outro dia,um sábado frio e doloroso entre meu companheiro e meu filho caçula,exerci exaustivamente e obrigatoriamente a arte de pouco falar.Que tortura foi para mim.Quando caiu a noite,sentei-me magoadíssima com um latão de cerveja na mão,e me rodearam duas cadelas(que nem nome tem), largadas em minha porteira e que adotaram minha vida e se fizeram DO LAR,olhei para as cadelas e explodi:CADELAS,OLHEM PARA MIM,SÓ ME RESTARAM VOCÊS PARA CONVERSAR.

Sei que nesse ínterim,meu amor e meu caçula me escutavam por inteira,até porque eu falava com eles para as cadelas,e se perguntavam interiormente:O QUE VIRÁ DELA,AGORA?Culparam como sempre a cerveja que eu tomara,e para se sentirem inocentes(e o são),pensassem que sou instável e não devem entrar em minha fantasia,pois seriam loucos como eu,e isso é perigoso,visto que no domingo eu nem sabia o que havia falado,como todas as vezes.Quem sabe pensassem que não posso ouvir o que pensam,pois eu ficaria por demais magoada e faria o que aos quatro ventos ameaço:suma.

E pensaram então(segundo minha própria loucura momentânea)que se eu LOUCA sumisse de repente(o caçula sabe por experiência),teriam que resolver sozinhos suas necessidades básicas e suas louças usadas e seus alimentos consumidos e suas dores musculares e resfriados,e teriam ainda que,lavar,recolher e dobrar suas roupas e o mais apavorante(segundo eu)seria o ponto:ME DEIXE!NÃO ME ESTRESSA!NÃO ESTOU COM VONTADE DE FALAR SOBRE ISSO!NÃO AMOLE!TÁ DE TPM?TÁ LOUCA?PARA DE VARIAR!NÃO VIAJA!

Ufa!Exausta!

Mas se consigo a arte de encher o papel com todas e tantas bobagens,realmente sou digna de fama!Certo?

E voltando as cadelas,talvez me critiquem por ter dado conversa a elas,e que no texto elas são desprovidas de importância,mas minha intenção é realmente notar a importância de entre tantos e tantos sentimentos calados e ideias jogadas pedindo opiniões aos seres que sirvo da hora que acordo até o momento que durmo e nem sempre durmo,só me restaram as CADELAS.

Se tenho amigos?Sim!Lógico que sim.Muitos em todos os lugares.Mas porque os farei vítimas de minhas conversas irrefletidas?E meus assuntos os interessam?Se abro minha conversa irrefletida aos ouvidos de meus amigos,perco minha liberdade de daqui algumas horas não ter o direito de esquecer ou mudar o que pensei,pois abro mão do direito de controlar minhas ideias,pois meu desabafo não seria captado como o é:um desabafo.Meros pensamentos que tentam alcançar o vento,por meio de palavras irrefletidas.E aí,terei que ceder e permitir que usem do que eu disse para cobrarem em atitudes que eu seja o que pensei(pequei?)e eu só queria delirar em palavras.

Deprimida?sim!Pode tirar dos meus ombros o peso do sentimento de culpa em dar a força de todo o coração,mente e alma?Não!Sim!Então não pergunte.Não importa!Desde que eu continue zelando pelo seu bem estar.

Tenho boas notícias!Isso também vai passar!

Eu valorizo sua opinião e escuto quando tu fala?Eu lhe dou valor?

Depois de tudo,dando de mim mesma,eu fiquei esgotada espiritual e emocionalmente.(Posso?)

Você foi negligente?

Levou-me a um fim desastroso,bem debaixo dos seus olhos?

Tão ocupado com seus enooooooooooooormes problemas,não notou?

Tenho boas notícias!Isso também vai passar!

Reservo tempo para escutá-los,e ainda valorizo-os.

Vocês terão o melhor de mim agora,incluindo uma aceitação de que me deixaram ficar com as CADELAS.

Deixo ao papel e as cadelas a extenuante tarefa de receberem sem MISERICÓRDIA o fogo de meus pensamentos irrefletidos e variáveis.

Em dez de maio de 2013.

Eliane Beyer como Lia Elemental