RAPIDEZ
 
Agosto, tarde de sol, vento ziguezagueando por entre os prédios da PUC, o movimento de jovens de um lado para o outro, rápidos, parecia uma carreira de laboriosas formigas.
Os maiores de cinquenta haviam se reunido para mais um encontro sobre versos e prosa. Foi uma aula agradável. A professora expôs a tese de mestrado, o que até então havia obtido na pesquisa, pois somente no final do ano iria concluí-la. O assunto foi interessante. Falou sobre o nascimento dos romances policiais, dos mistérios, dos crimes, dos primeiros autores, das obras e dos detetives e de como fizera uma turma de primeiro ano do ensino médio interessar-se pelo assunto. Ao concluir, aplaudimos.
Raquel e eu descemos pelas escadas, numa conversa que se prolongou. Então, paramos em frente a um dos prédios, de onde cada uma seguiria seu rumo, e continuamos o diálogo.
Ouvia com atenção, quando desviei o olhar, sem querer, para um jovem parado adiante, encostado num poste. Como se uma corrente elétrica nos unisse, voltou-se para nós e deslocou-se em nossa direção, passo firme, decidido. Olhei para minha amiga, querendo alertá-la, mas ela continuava o raciocínio, sem se dar conta do que se passava. Voltei a olhar para o jovem.
Mil coisas foram passando na tela da minha mente. O assalto que no ano anterior havia sofrido, com dois jovens armados tentando roubar-me o carro, as histórias dos sequestros relâmpagos noticiados seguidamente nos meios de comunicação, os crimes dos romances policiais que, ainda há pouco, a professora relatara, mais o exagero da minha fantasia, deixaram-me em pânico. Queria gritar, correr, avisar a amiga, chamar o guarda. Nada. Apenas um tremor percorrendo meu corpo, um suor frio e o coração disparado, como um alerta para o fato na iminência de acontecer, prendiam-me no chão.
O jovem apressando o caminhar, as mãos nos bolsos, de onde sacaria o revólver e nos conduziria para o caixa eletrônico, com o aviso de que, se gritássemos, nos mataria. E eu desesperada, já morrendo por antecipação, sentindo o coração saltar na garganta, despedindo-me no mundo, do sol, do vento gostoso, da família, dos amigos, tudo rápido, muito rápido, acompanhando os passos do malfeitor implacável que se aproximava mais e mais.
Para confirmar minha certeza, ele encostou na minha amiga e tirou uma mão do bolso. No instante em que senti ser impossível reter o grito, Raquel virou-se para o moço.
Concluí que estava sentindo o cutuco do revólver do lado da costela, quando vejo o sorriso e ambos.
– Este é meu filho, apresentou-me.
E virando-se para ele:
– Tudo bem, querido? Pensei que chegarias mais tarde.
Apertei com mão gelada e trêmula a quente que ele me estendeu e fui me retirando, pernas bambas. Sentei na primeira lanchonete que encontrei.

– Por favor, um copo com água.




 
MADAGLOR DE OLIVEIRA
Enviado por MADAGLOR DE OLIVEIRA em 12/05/2013
Reeditado em 18/05/2013
Código do texto: T4287502
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