Tempos modernos... Me desculpe Carlitos (Charles Chaplin)!

Dia normal, cotidiano...

Em ponto de coletivo, procedimento natural que fazia em suas andanças devidas ao estágio que realiza pelos diversos fóruns do estado e de sua cidade, Hipócrates nesse dia não estava só...

Embora impessoalmente contasse com a companhia de duas jovens senhoras que, pelo teor do diálogo pode deduzir que eram demonstradoras de produtos em supermercados e que estavam saindo de estabelecimento existente nas proximidades, provavelmente para dirigirem-se para outro, prática comum nesse tipo de atividade.

Embora sem fita-las, ‘ligadíssimo’ que era nas situações que estava direta ou indiretamente envolvido, percebeu que existia certa diferença de idade entre as ‘coloquentes’, que não primavam dialogar em tom compatível com o local onde se encontravam...

Mal chegaram ao local onde se já se encontrava Hipócrates, aquela que ‘pela sonoridade da voz’ parecia ser mais jovem, bradou:

--- Vou sentar no beiral dessa loja! As botas estão ‘comendo’ meu pé!

Ao que a que ‘soava’ como mais velha respondeu:

--- Que botas? Você está com um sapatinho baixo!

--- É que o encarregado do trabalho na loja nos obriga usar bota que fornecem. Anda prá lá, anda prá cá e ela tá ‘comendo’ meus pés. Fico com eles dolorido...

--- Cada coisa que nóis tein di infrentá, num é? Mas o que nóis podi fazer, temus di incará... Sou separada e tenho de arcar com tudo sozinha. Aluguel, roupa, sapato, escola, cumida para meus minino... Tenho um com seis e outro com oito...

--- E o pai? Não ajuda?

--- Aquele lá? Ele dá quatrucentu real e é muito pouco para cuidar dos dois... Agora tá dizendo que tá disimpregado e que vai para de dá... Si para mesmo, vou procura ajuda logo que ele para de ajuda... Dizem que eu tenhu direitu!

--- Ele tá com outra família?

--- Então,..., não tenho vergonha de conta! Ele me largou para se juntar com o padrinho do meu pequininho. Não foi com a madrinha não, foi com o padrinho!

A que estava sentada com dor nos pés que estavam sendo ‘comidos’ pelas botas, deu um salto colocando-se em pé e indagando surpresa:

--- Como assim?

--- É uma vergonha, mas foi assim mesmo. Estão vivendo feito um casalzinho. Marido e mulher...

Com o som de sua voz denotando total perplexidade, a ‘da bota’ emendou:

--- Ainda não estou conseguindo intendê! E a sua comadre, a madrinha?

--- Ora bolas! Assim como eu, ficou sozinha com os filhos... Imagine só... Um tremendu dum homão barbudo vivendo ‘de casalzinho’ com outro homem...

Fez-se um ligeiro e constrangedor silêncio, que foi quebrado pela ‘traída’:

--- O meu ‘grandão’, o de oito anos não se conforma. Não quer ir à casa do pai... O pequeno gosta... O padrinho vai buscar ele de carro e ele volta cheio de presente... Vou esperar até fevereiro e aí vamu vê comu fica quandu eu for procurá meus direitu... Tô ganhando oitocentus real e se até com o que ele dá agora está ficando impossível vive... Magina só se pará...

Foi o último 'papo' que ouvi. Chegou minha condução que não era a mesma delas e literalmente ‘embarquei’...

Devidamente acomodado em ‘confortável’ assento logo atrás do condutor do coletivo, não conseguia abandonar meus devaneios e definitivamente concluí que o meu já amplamente divulgado ‘quadradismo’ terá de ser muito tratado, com relevâncias e ‘deixa prá lá’ de muitos aspectos que mantinha, de acordo com os direcionamentos e modo de viver amplamente encaminhados na composição família que, abertamente compunha-se de papai, mamãe, filhos, netos e, quando se adentrava ‘mais a fundo’ pela vida, com bisnetos...

Nada contra, nada a favor, muito pelo contrário... Desde que não invadam meu ‘quadrado’ universo, que atinjam a felicidade que merecem!