A verdadeira felicidade

Era manhã de sábado, Dominique sabia que teria de acompanhar sua mulher Felícia as compras no shopping. Dominique no auge dos seus setenta e poucos anos, quarenta e três de um casamento feliz, já aprendera que não adiantava contrariar a amada e lá se foi ele enfrentar o inevitável.

Dom, (como era chamado pela esposa) parou no sinal da movimentada avenida que dava acesso ao shopping e, enquanto aguardava o sinal verde, observava distraidamente o movimento dos pedestres quando uma curiosa cena lhe chamou atenção. Na calçada duas crianças de rua brincavam felizes com o que lhe pareceu ser o maior dos tesouros. Algumas latinhas faziam a felicidade daqueles meninos que por alguns momentos esqueciam as dificuldades e incertezas da vida real. Naquele instante, para aqueles garotos, aquelas latinhas significavam tudo para eles. Através dos “insignificantes” objetos o mundo de imaginação, criado pelos meninos, lhes possibilitava sonhar.

Dominique voltou para a realidade de forma abrupta, interrompido pelas buzinas dos automóveis, acionadas pelos seus motoristas impacientes, mas aquela imagem das crianças brincando não saia do seu pensamento. No entanto, como Felícia conversava animadamente sobre a viagem que fariam no feriado de Ação de Graças para ver a filha, os netos e genro, Dom esqueceu por um momento aquela visão.

No shopping, Dominique foi dispensado momentaneamente pela mulher para que ele folheasse o seu jornal enquanto ela fazia as compras, porém algo inusitado lhe chamou atenção, uma jovem mulher arrastava o filho de dentro de uma loja de brinquedos. A criança aos gritos recusava-se a obedecer à mãe que já visivelmente estressada procurava manter a calma e demover o filho da ideia de querer mais brinquedos além dos que ela já havia comprado. A sacola estava cheia e a mulher tentava a todo custo negociar com o filho prometendo voltar outro dia para comprar mais brinquedos. Ela argumentava que ele tinha brinquedos semelhantes em casa e que o mesmo nem brincava com tudo que tinha.

Na volta para casa, Dominique comentou com a esposa as duas cenas que vira naquele dia e a lição que tirava de ambas:

-Apesar de tão jovens, aquelas crianças (as de rua e a do shopping) que Dominique vira em situações tão opostas e contraditórias. Enquanto as crianças de rua sem recurso nenhum brincavam felizes com seus “brinquedos imaginários” a criança do shopping com tantos brinquedos sofisticados não se mostrava feliz.

Dominique concluiu que no mundo dos adultos acontece algo semelhante, muitas pessoas passam a vida acumulando coisas, buscando a felicidade no mundo externo, nas inventividades humanas e às vezes, tardiamente, descobrem que a felicidade está no nosso eu interior, assim sendo o momento para ser feliz é o agora e ninguém pode o fazer por você ou você por alguém.

Este é o segredo para desvendar o segredo da verdadeira felicidade: inventividade, bom humor, fé, esperança, amor e uma alma de criança que passeia ligeiramente pelo mundo da imaginação sem tirar os pés do chão.

Autora: Maria Gilda da Silva