Rompimento Psíquico

ROMPIMENTO PSÍQUICO...

Em uma outra postagem aqui no "Recanto" que intitulei "Divórcio Psíquico" faço uma exposição desse fenômeno que acontece em algumas relações. Vou fazer uma "colagem" de parte do material de lá para que você, meu leitor, se inteire do assunto e se posicione.

"Divórcio Psíquico...

Não são raros os casos em que há rompimento psíquico entre o casal. Quando não se cuida com esmero do bem estar na relação, o tempo passa e leva embora a empolgação dos primeiros dias do casamento fazendo com que o interesse e o prazer de estar casado passe por um arrefecimento e, num crescendo, entra em um processo de desgaste levando o casal a um afastamento afetivo muitas vezes irreversível, entretanto, mesmo assim, permanecem juntos por motivações diversas. Muitas vítimas desse divórcio, eventualmente, se sentem na contingência de permanecer na relação por anos a fio por motivos alheios à sua vontade. Esse afastamento não é programado e não acontece conscientemente, simplesmente acontece, só sendo percebido quando já está em estágio avançado quando nem sempre é possível retornar. Pequenos incidentes vão acontecendo na relação e, por comodidade nada se diz no momento de tensão para não interromper o sossego. E, para não provocar o início a alguma discussão e coisa e tal, a conversa fica pra depois, a qual também não acontece porque já se torna necessário uma conversa mais séria. Desta forma a coisa vai se aprofundando num processo crescente chegando-se, inconscientemente, a uma crise que não se pode administrar sem medidas severas cabendo, daí em diante, decisões cada vez mais estressantes. Alguns, por comodidade, vão adiando o momento do confronto indefinidamente em face das dificuldades que vão aparecendo, bloqueando o início de um simples e básico diálogo que reverteria a situação trazendo de volta a normalidade do relacionamento. Por não ter havido o diálogo de entendimento, uma barreira invisível começa a se formar e vai se fortalecendo pouco a pouco até que seja inamovível.

Em face de um rompimento psíquico, eventualmente um ou outro dos cônjuges se esforça a fim de agradar o parceiro, numa tentativa desesperada para evitar o desmoronamento definitivo do casamento, porém depois de certo tempo, desalentado, percebe que o companheiro sequer notou o esforço despendido para chamar-lhe a atenção. Às vezes essas “atitudes bem intencionadas” chegam a causar constrangimento e irritam ao invés de agradar.

Esse fenômeno ocorre porque qualquer gentileza ao ser oferecida sem que encontre eco nos afetos do outro fica sem função, então, não tendo função, se perde. É como se uma barreira invisível se formasse bloqueando a sensibilidade, impedindo que o outro se aperceba do que está acontecendo e das boas intenções dessas atitudes.

Chega a vez de nosso personagem relatar o que significa isso na prática:

Um certo marido fala de seu relacionamento: Gostaria de me deleitar em ouvir minha mulher, dar opinião, compartilhar os meus pensamentos com ela, ouvir os seus, abrir meu coração, ter sentimentos bons, mas não sobrou espaço para o avanço destes desejos na relação porque tememos a rejeição, tememos ser criticados ao demonstrá-los. O desinteresse por parte do outro tem sido o produto histórico da nossa relação. Nas nossas desavenças, detonamos a única via de acesso ao coração do outro. As gritantes diferenças de opinião a respeito das coisas mais singelas e essenciais entre nós, impedem o fluir de coisas que deveriam acontecer com naturalidade. Aquilo que parece certo pra mim, está errado pra ela, e o que é certo ao seu ver termina por me agredir. (TSC! TSC!)

Dois mundos, duas dimensões, dois extremos tão adversos entre si que ao invés de andarem juntos, se entrechocam provocando turbulências e mal estar. São dois ímãs que se aproximaram um do outro pelo lado errado, ao invés de se atraírem ao serem aproximados, repelem-se. Perdeu-se o respeito, foi-se a admiração. Abundam as críticas e as recriminações.

"ACHO QUE CADA UM DE NÓS PROTEGE-SE EM DETRIMENTO DA RELAÇÃO, ENTÃO SOBREVIVE A ELA..."

-Já é coisa sensacional o fato de conseguirmos caminhar juntos até hoje. Somos uma estirpe de heróis. Superamos várias situações por demais complexas, mais ainda do que aquelas que muitos casais considerados ajustados conseguiriam superar, porém apesar de parecer, aos olhos de quem nos vê, que as superamos pelo fato de continuarmos juntos, só o fizemos aparentemente, porque a origem do problema essencial que nos divide, continua implacavelmente consolidada o que, por si só, é muito mais grave do que todo os problemas que foram superados conjuntamente. Que problema é esse? -NÃO PERTENCEMOS UM AO OUTRO!! Esse “problema-mor” sempre foi a fonte de todos as dificuldades que nos sobrevieram ao longo da nossa história e enquanto for mantida a relação, este “probleminha” vai garantir o surgimento de situações novas e desgastantes cuja administração vai despender grande quantidade de energia por ambas as partes. Paramos de nos amar como marido e mulher. Desenvolvemos um sentimento de "ter que cumprir o dever" mesmo em face de fazê-lo por obrigação e buscar encontrar algum sentido nesse senso de cumprimento do "dever cristão" e, talvez, algum tipo de satisfação. Enquanto essa satisfação não chega vai-se "tocando a boiada" até chegar no matadouro. (Corre-se o risco do matadouro chegar antes do momento esperado).

Cada um faz um enorme esforço para preservar sua individualidade em detrimento da relação, então sobrevive a ela. Essa é a celebração do individualismo. O ideal é que o individualismo morra e, em seu lugar, nasça a mutualidade. O individualismo não encontra lugar no ambiente de amor e reciprocidade natural dos bons relacionamentos. Todo aquele que se casa e prima por manter a individualidade na relação, isola-se. Com essa postura não permitirá que essa individualidade seja invadida pelo outro. Isso pode dar uma certa sensação de privacidade porém, assegura a morte da relação. A relação não tem sustentação própria por ter necessidade de ser construída e fortalecida dia a dia através do compartilhamento. Se não for mantida e alimentada, termina por fenecer como uma frágil plantinha que não recebe a sua porção de água diariamente. O individualismo é uma blindagem contra o compartilhamento. Sem compartilhamento não há relação, sem relação somos apenas indivíduos. Juntos, mas desligados.

O marido fala: Como indivíduo, quero levar a minha vida privativamente e, por isso, não quero vê-la invadida e ela, por sua vez, deseja mantê-la preservada igualmente. É o império de Sua Majestade o “EU” se sobrepondo ao humilhado “nós”, desprezado no seu inexpressivo gueto. Em nossa casa cada um cumpre o seu papel. Tudo muito bonitinho aos olhos de quem olha, mas não vê, poucos, entretanto conhecem os bastidores desta nossa história. Não formamos uma família, somos indivíduos compartilhando um mesmo teto, um mesmo espaço, uma mesma mesa, uma mesma cama, às vezes chegamos a fazer sexo, mas não somos um do outro. Temos muitas coisas em comum, mas não existe nada de comum entre nós. Conclui.

Uma pérola foi liberada em certo filme intitulado “Marido por acaso”. A atriz principal atuava como uma radialista que, em seu programa, atendia telefonemas de consulta amorosa e uma ouvinte perguntou-lhe se deveria se casar, mesmo estando com algumas dúvidas a serem sanadas a respeito do relacionamento que nutria com certo indivíduo. A consultora perguntou-lhe inusitadamente se o seu medo não era, na realidade, viver na solidão. A ouvinte confirmou e, aí, veio a pérola: “-Querida, a solidão que você teria que amargar por longos anos ao lado deste indivíduo não seria muito pior?” Viver ao lado de uma pessoa não representa necessariamente sair da solidão.

O marido diz: Eu sou um velho lobo solitário acompanhando uma loba em sua solidão por quatro décadas. Nosso problema de solidão não foi resolvido com o casamento. Pelo contrário o casamento nos deixou ainda mais sozinhos. Solteiro eu poderia encontrar alguém que quisesse encontrar alguém como eu enquanto que, casado fiquei impedido de experimentar outras possibilidades. Casados, aprisionamo-nos no Castelo da Desesperança, onde cada um de nós é o carcereiro do outro - conclui.

Inconformado
Enviado por Inconformado em 03/07/2013
Reeditado em 22/05/2014
Código do texto: T4370478
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