A Paciência do meu amigo Jó (*)...

(*) Homônimo do personagem bíblico que, apesar das provações que lhe foram impostas pelo demônio, jamais deixou de acreditar em Deus.

Por ext. Designação atribuída às pessoas que suportam os desafios e as lutas impostas pela vida com tolerância e resignação...

Era público e notório que a vida nunca fora fácil para Jobson Ferreira da Silva. Desde que seus pais deixaram a bucólica e aprazível Cachoeira, pequena cidade do Recôncavo Baiano, Jobson teve de comer “o pão que o diabo amassou”, como dizem por ai...

Ainda assim, o bom Jobson jamais deixou de acreditar que a felicidade que ele tanto procurava, poderia estar apenas querendo pregar-lhe uma peça; talvez brincasse de esconde-esconde, e um dia, quem sabe, quando menos Jobson esperasse, ela surgiria de algum lugar, contaria até três, e, pronto, Jobson estaria, então, livre das corriqueiras e levianas maldades urbanas...

Não por acaso, os que primavam do seu convívio, deram-lhe o apelido de Jó. Jobson também era Jó, um brasileiro, um herói anônimo, que, por certo, não vai constar de nenhuma enciclopédia, ou livro de memórias, nem de versículos bíblicos, e, muito menos, das janelas virtuais do Google, MSN, ou, das páginas dos badalados twitters, mas, por certo, será sempre lembrado e admirado por sua paciência e seu incomparável senso de desprendimento, tolerância, bondade e resignação.

Jobson morava com a mãe, Idália, que trazia na face e no corpo as marcas das batalhas que desde a infância travara... Ainda bem que, ao contrário dos escassos recursos materiais, sobravam-lhe os espirituais. Idália era devota de Nossa Senhora dos Retirantes. Não raro, via-se Idália a varrer as escadarias da capela, ou a preparar “quitutes” para as tão aguardadas novenas e reuniões dominicais...

E fazia-o com o coração cheio de alegria por poder (sic) servir à Mãe do Senhor. Idália sabia muito bem o significado do que era “padecer no paraíso”. Idália tivera dois filhos. Jobson, o primogênito, agora, aos 24 anos de idade, via-se na iminência de assumir as responsabilidades que, até então, cabiam ao seu saudoso pai, Ataíde Ferreira da Silva, vítima fatal de um assalto à mão armada, ao retornar para casa, depois de trabalhar o dia todo como vigia em uma escola municipal no bairro do Grajaú, extremo sul da cidade de São Paulo.

(...) Que ironia do destino!!! A tragédia ocorrida em uma terça-feira de carnaval, jamais chegou a ser devidamente esclarecida pelas autoridades competentes. Até hoje, depois de alguns anos, a autoria do crime não foi elucidada. E o pior, Ataíde fora dado como vítima de uma rixa entre facções criminosas que tinham suas “sedes” nas imediações do Jardim São Luiz...

(...) Logo quem... Ataíde, que sempre foi um homem honrado, exemplo de cidadão, um pai dedicado e um chefe de família exemplar...

Ao lado do corpo inerte de Ataíde, restavam agora uma pizza, meio-muzzarela e meio margherita, um refrigerante Dolly de dois litros e um velho guarda-chuva de lona...

Com seu “trabalho de formiguinha” Ataíde, à sua maneira, também ajudava a construir a grandeza do país que tanto amava... Ataíde deixou saudade, e, claro, um imensurável vazio no seio da pequena família... E ainda havia Nathan, o filho temporão, que, como costumava dizer Idália, viera a este mundo para encher de alegria a rotina da pequena família... E o pequeno Nathan cativava a todos. Era um menino carinhoso e bastante perspicaz para uma criança de três anos de idade.

Idália recebia uma pequena pensão deixada pelo marido, fruto de alguns empregos com registro em carteira, e das muitas contribuições individuais á Previdência Social como contribuinte facultativo.

A dura realidade é que Idália ficou sem o seu querido Ataíde, o único e verdadeiro amor de sua vida... Há quem diga que até hoje, depois de cinco anos, Idália ainda não superou a dor da perda. E talvez jamais a supere.

Sem o seu querido Ataíde, não lhe restava outra saída, a não ser fazer as pazes com a saudade, e tentar sobreviver de uma habilidade inata que, ao longo da vida, fora aprimorando.

Idália era habilidosa com tesouras, moldes, agulhas e tecidos. Operava como ninguém uma já obsoleta, mas ainda eficiente máquina de costura “Elgin”, o que lhe garantia uma pequena renda, insuficiente para cobrir os gastos mensais com as despesas do lar, e com alguns medicamentos que lhe valiam para minimizar uma ou outra dor do físico já um tanto combalido pelas agruras do dia a dia...

(sic) As dores da alma, meu filho, essas não são curadas com a química das farmácias... Era o que Idália costumava dizer...

Mas nem tudo eram percalços. Idália também tinha lá as suas vaidades. Não lhe faltavam na bolsa, pó de arroz, batom, blush, um pequeno espelho, e um lápis preto para retocar as espessas sobrancelhas, e reforçar a sua sempre serena beleza natural.

Todavia, com o passar dos anos, ao fim do dia, os olhos cansados de Idália passaram a denunciar uma indisfarçável dificuldade para costurar.

“Mãe, a senhora precisa consultar um oculista. Talvez seja essa a causa das constantes dores de cabeça. Vou agendar uma consulta no posto de saúde. Onde está o seu cartão do SUS (1)?”

“Não filho, agora não quero nem ouvir falar em consulta. Vamos deixar isso para outro momento. Por enquanto, só pretendo cuidar de ti e do pequeno Nathan. Por favor, Jobson, não insista que agora não tenho cabeça para nada.”

“Mas mamãe, já faz dois anos que o papai se foi, e você tem de viver a sua vida. Estou certo de que ele ficaria mais feliz, se soubesse que você não deixou de cuidar da sua saúde.”

O tempo passava e Idália ia adiando a consulta com o oftamologista. A dificuldade para costurar aumentava, a ponto de fazê-la recusar alguns trabalhos, o que a deixava ainda mais angustiada...

Até que um dia, mesmo à revelia da mãe, Jobson chega em casa com a consulta agendada. Em questão de dias, Idália fora submetida a uma cirúrgia de catarata e, felizmente, para alegria geral, Idália voltara a dar-se conta da indizível beleza das alvoradas que, por longo tempo, deixara de presenciar em toda a sua plenitude. Isto sem falar dos crepúsculos, das noites de lua cheia, das três marias e de todas as obras da natureza que só mesmo os olhos são capazes de testemunhar...

“Puxa, filho, se eu soubesse que veria tudo tão bem e com tanta nitidez, não teria esperado todo esse tempo. Obrigada, querido filho, por me devolveres as cores e os brilhos da vida...”

(...) “Às vezes, ponho-me a pensar nas pessoas que, por algum motivo, não podem presenciar estas belas imagens, e naqueles que não conseguem ouvir a voz do vento, nem o canto dos bem-te-vis, das cigarras e dos rouxinóis... Só mesmo em momentos assim é que nos nos damos conta do quanto somos felizes...”

Primeiro, o silêncio. Depois, um brilho intenso, e a seguir, um trovão. Assustado, Fonseca, não para de latir, de correr de um lado para o outro, até esconder-se sob o vão da escada... Fazia dois meses que o vira-lata fora encontrado por Nathan. Fonseca tinha o pelo castor, as patas brancas e um olhar que só faltava falar. Alguém certa feita disse que os cães têm o olhar de Deus... E Fonseca só confirmava essa assertiva... Desde então, o pequeno Nathan e Fonseca, jamais se separaram. Fonseca parecia ter encontrado o lar de que tanto precisava, e Nathan o amigo certo de todas as horas...

Jobson trabalhava como empacotador em uma renomada rede de supermercados, e à noite frequentava o curso de técnico em eletrônica. Jobson sempre sonhou com o próprio negócio; se o conseguisse, achava que estaria definitivamente livre da implacável e cruel estatística do desemprego, que, volta e meia, desde os tempos do pai, Ataíde, assolava a pequena família....

Já no segundo ano do curso de Técnico em eletrônica, e, valendo-se da habilidade que tinha com chaves de fenda, alicates, soldas e um velho voltímetro, Jobson abriu uma portinhola na periferia do extremo sul da cidade de São Paulo, entre o Jardim Ângela e o Jardim São Luiz.

Jobson consertava tudo que parecia sem conserto, e assim, ia ganhando a confiança dos primeiros clientes. Adquiriu alguns equipamentos e, munido dos indispensáveis manuais, alguns em espanhol e outros em língua inglesa, começou a mexer em todo o tipo de engenhoca eletrônica que por por lá aparecia.

Um dia, meio que por impulso, Jobson mandou fazer uma placa com os dizeres:

A Paciência de Jó - Serviços de Eletrônica em Geral.

Àquela altura, Jobson já consertava rádios, liquidificadores, espremedores, sanduicheiras, aspiradores, gravadores, ventiladores, e até em panelas de pressão Jobson dava jeito...

Enquanto isso, o pequeno Nathan crescia e, ao chegar aos cinco anos, insistia para que Jobson o presenteasse com uma bicicleta de rodinhas. Nathan alegava ser o único entre os seus amiguinhos que ainda não tinha uma.

Logo, Jobson lembrou-se de sua infância, e, daqueles patins que encontrara jogados em um terreno baldio, e que, apesar de sucateados e descartados, tanta alegria lhe trouxeram... Com eles, Jobson desafiava as íngremes e esburacadas ladeiras da comunidade, corria o mundo levado por uma dúzia de rodinhas e pelas asas de sua fértil imaginação.

A verdade é que Jobson não sossegaria, enquanto não presenteasse o pequeno Nathan com uma bicicleta de rodinhas. Nas imediações do pequeno sobrado onde moravam, havia uma bicicletaria com o sugestivo nome de “Rodas da Liberdade”. Ali, Jobson encontrou uma bicicleta, aro 14, em bom estado, com espelhinho, rodinhas e bagageiro.

Nathan parecia viver um sonho, quando, em uma ensolarada manhã de sábado, viu Jobson chegar em casa com aquele veículo azul, equipado com espelhinhos, bagageiro, caixinha de ferramentas e uma campaínha...

Entre um tombo aqui, e outro ali, Nathan ia ganhando confiança, a ponto de um dia soltar a mão esquerda do guidão, e orgulhoso de si, enquanto pedalava, alardear:

“Veja Jobson, já sei andar só com “a mão direita.”

“Muito bem, Nathan. Mas tome cuidado com os automóveis, e não se afaste tanto de casa. A sabedoria também requer precaução e, até mesmo, um pouco de receio...”

“Pode deixar, Jobson que eu tomo cuidado; por enquanto, não vou soltar a outra mão... Mas, um dia, eu sei que vou conseguir...”

“Está bem Nathan. Mas lembre-se de que o excesso de confiança muitas vezes atrai o perigo... Estou certo de que você saberá aprender as lições que só mesmo o tempo é capaz de ensinar...”

Jobson tinha verdadeira fixação pela leitura. Aproveitou o que aprendera decifrando aqueles complicados manuais de eletrônica, e decidiu estudar Letras para, se possível, lecionar em uma escola próxima à sua residência, o que lhe permitiria incrementar um pouco mais a renda familiar, e, ainda, manter a oficina de assistência técnica aberta. Jobson não se conformava com o elevado número de jovens analfabetos na comunidade.

Dizia ser o analfabetismo uma forma de cegueira. E que a cura estava na escola ao lado... Determinado como poucos, Jobson em quatro anos concluiria o curso de Letras.

Jobson gostava muito das aulas de Literatutra, em especial, as de mitologia grega. Ficou tão impressionado com os doze trabalhos de Hércules que achava que a sua vida, se comparada à do mito, era um verdadeiro mar de rosas... mas cá para nós, claro que não era bem assim ...

Depois de formado, Jobson fora logo aprovado em um concurso para professor da prefeitura, e, então, em meados da década de oitenta, já conciliava bem o tempo entre o ofício como técnico em eletrônica e o de professor do ensino fundamental.

Já não dava mais para esperar. Jobson, cuja carteira de habilitação havia sido recentemente renovada, precisava de um veículo para poder atender às suas necessidades de locomoção, bem como para facilitar a vida de toda a família, afinal, Dona Idália e o pequeno Nathan mereciam um pouco de conforto.

E foi uma festa, quando Jobson anunciou à família que havia adquirido um Fusca 1978 em ótimo estado. Era verde abacate, e tinha até radinho, rack e vidro rayban. Uma jóia de automóvel. Com ele Jobson podia levar Dona Idália ao supermercado, ao médico, e vez por outra, propiciar à família passeios inesquecíveis. Certa feita, foram todos, a bordo do novo veículo, fazer um piquenique às margens da Represa do Guarapiranga, uma experiência inesquecível para toda a família.

Apesar do desgaste para conciliar a faculdade de Letras e a oficina, Jobson vivia um momento feliz. É que no último ano do seu curso, começou a namorar Dinorá, também professora secundária. Jobson e Dinorá, agora, voltavam juntos da faculdade. Dinorá, com seu jeitinho meigo, logo conquistou a simpatia de Dona Idália e o amor do pequeno Nathan.

Dois anos se passaram, casaram e lá foram os quatro morar numa casinha maior do outro lado da Ponte João Dias, ali, próximo à Estrada do M’Boi Mirim. Com o seu fusquinha verde abacate, Jobson agora desafiava qualquer distância. Tudo parecia logo ali. Mais motivado que nunca, Jobson tratava-o com um zelo quase maternal. Não havia fim de semana que ele não lhe desse um banho com shampoo. Depois encerava-o até que brilhasse feito um espelho, e parecesse um carro “zerinho, zerinho”...

Até que um dia, que tinha tudo para ser apenas mais um dia na vida, uma surpresa indesejável abala a rotina, não apenas do metódico e paciente Jobson, mas a de toda a família. Seu Fusca, ainda com algumas prestações por saldar, fora furtado na Cidade Universitária, no estacionamento do prédio da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, onde frequentava um curso de extensão universitária para reforçar os seus conhecimentos em fonética. Na verdade, Jobson tinha a língua presa, o que, além da sua já conhecida timidez, dificultava-lhe a boa dicção, tão necessária para um professor de Língua Portuguesa...

Jobson sabia que ali estava mais uma provação, e que ele, pacientemente, teria de lidar com ela, e, se possível, extrair outra das muitas lições que a vida lhe ensinara.

Depois de se locomover até o Didstrito Policial mais próximo, e de aguardar três longas horas na sala de espera, Jobson conseguiu registrar a ocorrência. Naquela época, computadores ainda eram “personagens” de filmes de ficção científica, e a máquina datilográfica do distrito policial, uma já obsoleta Remington, parecia não dar mais conta do elevado número de B.O. (s) (2) que deviam ser preenchidos.

Todavia, Jobson sentia-se mais que vitorioso por ter conseguido sair do Distrito Policial com o indispensável Boletim de Ocorrência, primeiro passo da maratona burocrática que já se avizinhava...

Ao chegar em casa, já tarde da noite, Idália, a quem Jobson, por telefone, pusera a par do ocorrido, tentando confortá-lo, dizia-lhe:

(sic) Deus sabe o que faz, filho. Ele quer ver até onde vai a tua paciência Jobson,.. Às vezes, Ele fecha-nos uma porta para poder nos abrir outra...”

E assim, valendo-se de caronas dos colegas, do sorriso do pequeno Nathan, do amor e compreensão de Dinorá, e das sábias palavras da mãe, Jobson dava seqüência ao seu curso, até que ao cair de uma ensolarada tarde de início de verão de 1988, um inesperado interurbano dava conta de que o seu Fusca fora encontrado em Bom Jesus de Pirapora, município da Grande São Paulo...

Ainda com o telefone na mão, Jobson não se contém de tanta euforia, e passa a agradecer repetidas vezes ao seu interlocutor, o escrivão do distrito que lhe trouxera a boa nova...

“Calma sr. Jobson, as coisas não são tão simples assim, pois, o senhor, agora, terá um grande desafio pela frente.”

“Como assim!?”

“É que os meliantes alterararm o chassi do veículo, e o senhor vai precisar submetê-lo a uma rigorosa e detalhada perícia. O automóvel deverá ser fotografado, e o chassi passar por uma minuciosa inspeção por parte da Polícia Científica.”

“E isso é muito complicado!? questiona Jobson ainda tomado por um misto de euforia e inquietação.

“Isso vai depender do senhor”, apressou-se o invisível interlocutor.

Na verdade, até hoje Jobson não entendeu o que o agente policial queria dizer com aquelas palavras, mas, por outro lado, achava que burocracia alguma seria capaz de intimidá-lo e fazê-lo desistir de tentar reaver o seu fusquinha...

E prossegue o anônimo agente, “Quanto á guarda do veículo, o senhor poderá manter a sua posse na condição de Depositário Fiel, mas não comercializá-lo, até que seja emitido o competente Auto de Entrega.”

Jobson apressou-se logo em retirar o carro, e recebeu um documento que lhe garantia apenas o uso, mas não a posse plena do veículo. Menos mal, pois, agora, Jobson, como Depositário Fiel do próprio veículo, poderia terminar o seu curso, na esperança de que, talvez, não fosse tão difícil assim obter o tal Auto de Entrega, fundamental para que todas as perícias subsequentes fossem realizadas...

É bem verdade que Jobson ficou sem algumas ferramentas, sem o radinho e os alto-falantes. (...) Menos mal, pois ali, bem no centro do painel, o retrato do pai, Ataíde, continuava a lembrá-lo:

Não corra, filho.

Como o tempo não espera por ninguém, já fazia um ano e meio, e Jobson ainda não conseguira o tão necessário “Auto de Entrega”.

Jobson e Dinorá chegaram a ir ao Distrito inúmeras vezes, talvez três, quem sabe, quatro, e sempre se deparavam com alguma dificuldade intransponível.

Foi então que o bom Jobson lembrou-se do Nestor, um vizinho que trabalhava na Corregedoria do Detran, o Departamento Estadual de Trânsito. Nestor parecendo incomodado com o relato de Jobson, logo se prontificou a acompanhá-lo ao Distrito Policial. Maracaram para a manhã seguinte, e, chegando lá, em pouco mais de meia hora, Jobson já estava na posse do tão indispensável Auto de Entrega..

“Obrigado Nestor. Sem você, eu jamais teria conseguido este documento”

“É que você, na sua ingenuidade, Jobson, não percebe que ás vezes as pessoas criam dificuldades para poder vender facilidades...”

Até hoje o paciente Jobson parece ouvir o vizinho Nestor repetindo aquela frase. Com o Auto de Entrega em mãos, e orientado por Nestor, lá foi Jobson à Polícia Científica, na Zona Leste da Cidade de São Paulo, onde teve o seu fusca periciado, fotografado e remarcado. Uma verdadeira odisséia da qual Jobson jamais se esqueceria.

Hoje, depois de alguns anos, parece que todos na família aprenderam alguma lição.

Idália viu que a paciência de Jobson foi o que levou aquela história a um final feliz. O pequeno Nathan, agora, já vestindo calças compridas, trabalha como carteiro motorizado na EBCT – a Empresa Brasileira de Correios e Tlégrafos, e, à noite, estuda Computação no SENAI (3). Nathan também aprendeu que na vida real, nem sempre o bem vence o mal como naqueles “enlatados” da sessão da tarde de que tanto gostava.

E Dinorá, que significa luz, pessoa intuitiva, acabou fazendo jus ao nome com que seus pais a batizaram... E ainda faria de Jobson o mais feliz dos homens. Joshua já estava a caminho; em cinco ou seis meses chegaria para alegria de toda a família...

E Jobson, mais que nunca, aprendeu que sempre vale a pena acreditar que o Universo conspira a favor daqueles que, com paciência, aguardam a sua vez, e, enquanto isso, procuram fazer o bem sem olhar a quem...

E o irriquieto Fonseca parecia o mais feliz da família, pois não parava de abanar o rabo e de procurar com um ou com outro, um afago qualquer, um sorriso amigo e acolhedor.

Já faz quinze anos que Jobson, que também é Jó, convive com a malvada saudade, e, pacientemente, ainda aguarda que as autoridades competentes elucidem o estúpido e cruel assassinato do seu querido pai, Athaíde Ferreira da Silva...

FIM

Conto de Zizifraga

Junho de 2013.

Notas:

(1) Sistema Único de Saúde.

(2) Boletins de Ocorrência.

(3) Serviço Nacional da Indústria.

Zizifraga
Enviado por Zizifraga em 10/07/2013
Reeditado em 02/01/2014
Código do texto: T4380280
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