MUSEU DE NÓS MESMO

Um dia desses saí caminhando com minha consciência para visitar momentos já esquecidos em mim. Fiquei admirado com a favela com que me transformei internamente, pedaços de orgulho pelo chão do coração, farelo de saudade espalhado pela estrada de minhas artérias, muralhas de sonhos desistidos, amores enrustidos e lagrimas contida. Eu já fui mais organizado comigo mesmo, havia um campo florido no céu do meu sorriso, mas me vejo envelhecido. O que aconteceu comigo. Abandonei-me para seguir uma aventura qualquer, deixei de ser eu pra ser qualquer pingente dependura no braço de uma mulher. Que aventura foi essa de me doar a quem me quisesse fazer feliz. Eu me endividei vendendo minha alma, buscando o que falta e brigando com minha consciência.

Minha consciência resolveu fazer essa viagem ao fundo do meu eu para mostrar-me o quanto eu desperdicei amor, carinho, amizade, solidariedade por enxergar só o que eu via pelo espelho. Porta-retratos sem fotos, abraços no vácuo e olhares distantes, assim sou eu depois de assistir tantas pessoas passarem por mim.

Eu nunca nesses anos todos havia parado a rédea do tempo por um só momento para perceber o quão egoísta fui não sendo o que esperavam de mim e oferecendo aquilo que eu próprio não queria pra mim.

Minha consciência me levou ao vale da maldição existente em cada alma humana. Meu vale corria um rio de águas raivosas, cachoeiras de inveja e vulcões de impaciência. Pela primeira vez sentia descer uma lagrima pura descida dos olhos do coração, um arrependimento inesperado abateu sobre mim e vi meu rio de raiva secar, minha consciência ao meu lado sorriu e senti sua voz sussurrar ao meu ouvido que o ser humano convive tanto com animais que acaba adquirindo seus instintos selvagens.

Com uma vassoura de pena de arrependimento varri todos os espaços empoeirados de minha alma, com tijolos de sabedoria reconstruí meu muro de consenso, e com vidro de transparência espelhei meu caráter para que eu pudesse me ver.

Minha consciência silenciosamente me levou para o lado externo de mim mesmo sem esboçar qualquer tipo de sussurro despediu-se de mim e adentrou para dentro do meu eu, era noite e cansado da viagem adormeci olhando através da vidraça estrelas cadentes se atirando sobre o lago.

No outro dia acordei e ao me olhar no espelho vi alguém que eu não conhecia, um sorriso deslizou pelo canto dos lábios da minha alma, sem rio, sem cachoeira e sem vulcão, apenas um córrego de esperança a desaguar no mar de sonhos renovados. Às vezes é preciso voltar ao passado para reencontrar o caminho que seus pés deixaram abandonados. Ao visitar nosso antiquário particular descobrimos que muitos de nossos sonhos permanecem intocáveis a nos esperar.