Kilimanjaro - Dia 3: no cartão postal

A noite foi gelada. O limite da bexiga me expulsa da barraca com os primeiros raios de sol. Tiro a fina camada de gelo e aprecio o belo cenário. Era um acampamento, mas pode chamar de cartão postal! O Kilimanjaro parecia acordar discretamente, sem a imponência usual, quando o sol ilumina suas geleiras.

Rapidamente o calor chega. Dia curto de caminhadas, predominando o plano. Se apetite é bom sinal, estamos melhores que ao nível do mar. As ótimas refeições foram todas devoradas. Sinto alguma dor de cabeça leve, mas tento não me preocupar. Afinal, estamos perto dos 4.000 metros, ainda que ninguém afirme com segurança a altitude. O tema causava novos ruídos na comunicação. Informação não era o ponto forte do pessoal...

Pior que o incômodo em si, era a dúvida. Seria apenas o primeiro sintoma do ar rarefeito? Eu precisaria conviver a “novidade” pelos próximos dias? Ainda faltava um terço da montanha, como seria perto do cume? Alguns podem classificar como simples pessimismo. Eu chamo de cautela.

Innoncent, um dos guias, oferece opção de caminho alternativo. Seria mais longo, incluindo subida a um pico próximo. Após rápido debate, aceitamos. Ótima decisão. Além de um belo cenário, preenchemos o dia. Com algum esforço adicional, conseguimos ótimas lembranças. Foi uma troca justa.

Do caminho, vemos um carro seguindo em alta velocidade numa estrada próxima. Era uma equipe de resgate. Um pequeno choque de realidade: coisas desagradáveis podem ocorrer na alta montanha. Ainda chegamos cedo ao acampamento e fazia muito calor na barraca. A menor camada de ozônio dos lugares altos potencializa os efeitos sol. Mangas compridas, boné, óculos escuros e protetor solar são itens compulsórios, companheiros de jornada. Meu caderno de anotações é grande entretenimento nas longas horas que permanecemos parados.

Fazia calor, entro na barraca e ajeito o saco de dormir como travesseiro. O Paulo observa a cena e fica empolgadíssimo, fazendo uma associação histórica. Eu estaria igual a um certo sujeito que morreu na Bolívia há tempos. Aguardem o vídeo e tirem suas próprias conclusões.... Ele fez questão de registrar em foto.