O Presente Do Papai Noel

Aos cinco anos, o pequeno e robusto Júlio era igual a qualquer outro garoto de sua idade. Ativo, travesso e um apaixonado por sorvete, chocolate e demais guloseimas. Mas quando chegou a época do Natal, o menino manifestou um desejo estranho à sua mãe:

— Mamãe, onde o Papai Noel mora?

A mãe recorreu às suas recordações do tempo da infância e esclareceu:

— Acho que o bom Noel vive no polo norte, meu filho.

— E fica muito longe, mamãe?

— Fica sim, Julinho. Entretanto, não precisa se preocupar. Papai Noel não vai se esquecer de trazer o seu presente. Ele visita o mundo todo, com aquele trenó puxado por renas voadoras.

O garotinho sorriu animado e observou:

— Pois quando ele chegar, por favor, mamãe, eu quero estar acordado. Preciso entregar um presente para o Papai Noel.

— Mas que presente é esse, meu filho? — indagou a senhora algo surpresa e intrigada.

Julinho correu até o quarto, e em poucos instantes já estava de volta. Trazia segura firme entre as mãozinhas uma folha de papel, quando falou:

— Olhe, mamãe, fiz uma roupa mais fresquinha para o Papai Noel não sentir muito calor quando vier trazer o meu presente.

A mulher ficou assombrada com a criatividade do filho. O desenho mostrava um homem baixo, barriguinha saliente, de cabelos e uma grande barba branca, vestido com uma camiseta amarela de gola verde-escuro e uma bermuda azul-claro, lembrando um pouco o uniforme da seleção brasileira de futebol. O Papai Noel dos trópicos, ainda calçava um par de chinelos verde com tiras amarelas.

— Seu desenho está lindo, Júlio! Você tem muito talento — disse a mãe satisfeita e orgulhosa, pois se tratava mesmo de uma bela obra.

Na véspera do Natal, quando o Papai Noel apareceu para entregar os presentes, o pequeno Júlio fitou-o com um ar muito sério e argumentou:

— Eu te conheço. Você não é o Papai Noel, e sim o meu tio Paulo. A seguir, o garoto puxou a barba postiça do fantasiado e acrescentou resoluto:

— Não adianta tentar me enganar, tio. O senhor não vai ganhar o presente do Papai Noel.

Júlio esperou até aos sete anos pela visita do verdadeiro Papai Noel.

...18 anos depois...

Vamos encontrar agora o jovem Júlio tentando preencher uma vaga de emprego em um escritório de advocacia.

O homem de terno e gravata à mesa, alto, esguio, na casa dos sessenta anos, explicava de modo paciente:

— O seu currículo é bom, meu rapaz, mas infelizmente a vaga é para um advogado com maior experiência.

— Eu compreendo, senhor. Todavia, será que eu poderia deixar o meu cartão, para o caso de aparecer alguma coisa?

— Certamente — respondeu o velho advogado afável.

Ao abrir a pasta para retirar o cartão, uma folha de papel dobrada escorregou sobre a mesa do entrevistador, e antes que Júlio pudesse recolhê-la, o homem de olhos atentos conseguiu ler o destinatário no verso da folha: “para o Papai Noel”.

— Mas o que é isso, meu jovem, uma carta para o bom Noel?

— Ah, me perdoe, senhor, não sei por que ainda guardo isso. É um desenho que fiz quando tinha cinco anos, para o Papai Noel.

— Posso vê-lo?

Meio sem graça, o rapaz aquiesceu.

O astuto mestre da advocacia examinou o desenho com interesse e por fim anunciou em tom satisfeito:

— Excelente! Você desenha muito bem, rapaz.

— Obrigado, senhor! Sempre gostei muito de desenhar.

— Escute — observou o interlocutor com uma súbita ideia na cabeça — meu sobrinho está abrindo um estúdio de animação. Ele e seus sócios estão precisando de gente com a sua criatividade e dom para o desenho. Estaria interessado em mudar de ramo, Júlio?

— Puxa, seria ótimo!

De fato, passados alguns dias depois do ocorrido, Júlio fora efetivado pelo estúdio ARTE SHOW, como desenhista profissional, e em seu íntimo não podia deixar de refletir: “afinal, valera a pena ter guardado durante todos esses anos o presente do Papai Noel”.

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