MARTA, É VOCÊ?

Marta surgiu em nossas vidas com um grito: “Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!” , um verdadeiro grito coletivo de terror. Vale lembrar que o coletivo aqui se refere à duas pessoas: mãe e filha. Quando Marta nos viu, também deve ter gritado de terror, na linguagem pequenina e inaudível que é somente de sua espécie. Quando nosso grito ecoou pela casa, o valente guardião colocou se em prontidão para nos salvar e veio com toda sua coragem e audácia e logo nos defendeu. Já estávamos trancadas em nossos quartos e abrimos sorrateiramente a porta até termos a certeza que não corríamos mais perigo. Foi quando o heroi em posse de sua presa correu para perto de mim, foi novamente um corre-corre e um berro de terror e um bater de porta violento. Já recuperadas de nossas forças eu e minha filha resolvemos observar de perto aquele pequeno ser que era tão diabolicamente ameaçador. Primeiro Marta, que ainda não tinha esse nome, claro; era uma ameaça venenosa que ao primeiro toque poderia ser mortal, depois de algumas pesquisas na internet ela deixou de ser ameaçadora e passou a ser somente nojenta. Logo em seguida percebemos que seus olhinhos eram doces e amedrontados. Vimos então que aqueles olhinhos pediam ajuda. Resolvemos adotar a pequenina e demos o nome de Marta e a colocamos num jardim para ser feliz e virar borboleta. De tempo em tempo íamos olhar a Marta e seus olhos de lagarta e ela estava lá, salva de seus predadores. E o nosso leal guardião ia todo feliz balançando seu rabo canino e cheirando o pequeno ser rastejante. Até que depois de um tempo já não a vimos mais, enfim , achei que estava em alguma folhinha escondida.

Quando varria a calçado do outro lado do muro de repente soltei um alto murmúrio “Que pena!” Minha filha perguntou “ O que foi mãe?”. E eu logo respondi que Marta estava morta, havia passado pelo cano que escoava a água da chuva e estava caída imóvel. Ela logo disse que aquela não era a Marta, havia inúmeras iguais a ela. Fiquei aliviada, afinal acreditava que Marta havia borboletado. Borboletar é um verbo que resolvi empregar para ter a certeza que minha doce Marta havia virado borboleta e agora cada vez que vejo uma borboleta pergunto baixinho: “Marta, é você?”.

Raquel Delvaje
Enviado por Raquel Delvaje em 07/09/2013
Reeditado em 07/09/2013
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