UM FINAL INFELIZ
 

Nem tinha dado conta que ele tinha saído sem dizer "até logo". Mas não se admirou, sempre fora de poucas falas, quase um "bicho do mato".
Andava preocupada com ele, sem apetite, deixava a comida no prato, não dava fala. Já o surpreendera muitas vezes afundado no velho sofá, a televisão acesa mesmo à sua frente e ele olhando o chão ou a janela. Passava horas e horas absorto, com o pensar em lugar nenhum.
As contas não paravam de aumentar, era isto, isso, aquilo, um desfilar de despesas que tinham de ser satisfeitas, sempre a curto prazo. Sabia que isso o preocupava. Tinham-se desfeito de alguns valores em ouro, parca herança de uma tia afastada. Mas esse dinheiro já se acabara há muito, era preciso sempre mais, mais.
As horas foram passando, anoiteceu, chegou a hora de jantar, ela estranhou...
Passaram-se mais uma, duas horas, começou a ficar preocupada, ele nunca saíra assim sem dar uma satisfação.
Mais outra hora se passou. E outra e outra.
Estava sentada no sofá quando tocaram à porta. Ela levantou-se e correu até à entrada da habitação. Entreabriu a porta e viu dois polícias.
- É aqui que mora o Senhor Eduardo Monteiro? A senhora é a esposa?

 
20/09/2013


 
Este pequeno conto é dedicado à memória de um amigo que no mês passado, de forma inexplicável, decidiu pôr termo à vida. Contava sessenta e dois anos.
Que em paz repouse finalmente a sua alma.