Tirou o fato da mulher.

Numa cidade do nordeste na sexta-feira à noite um casal discute, sobre que fazer para o almoço de domingo. Normalmente bebericando cachaça com tira gosto. Almoço mesmo só lá pelas 3 horas da tarde já com as cabeças em maresia. Às vezes ele ainda assiste o primeiro tempo do jogo da televisão se for o Flamengo, outras ele se joga pesado numa rede, sono profundo com roncos de trator.

Sem chegar a um consenso, na manhã de sábado o marido saiu para a feira que fica atrás do mercadão. Lá bebeu umas doses de cachaça e resolveu comprar fato, tripa e bucho, colocou tudo na sacola e saiu cambaleando para casa. Em casa a mulher se estressou com aquela cosia suja para preparar, temperar para domingo. Cansado ele bêbado se jogou numa cama e desligou-se do mundo. A mulher com raiva juntou tudo aquilo e jogou dentro da geladeira sem nada fazer.

No domingo bem cedo, a mulher levantou e o viu estirado na rede. Então foi para o mercadão e para facilitar seu domingo, decidiu comprar uma galinha assada que vem acompanhada de um saquinho com farofa, então ela faria apenas arroz, feijão e salada de alface com tomates e cebolas e não perderia seu domingo com umbigo no fogão.

O marido acordou próximo do meio dia. Procurou logo a cachaça para abrir a sessão de bebedeira em companhia da mulher. Na sua mente se imaginava aquela buchada¹ suculenta com pirão e pimenta fresca amassada com azeite. Ligou a vitrolinha comprada na feira de produtos do Paraguai. O gosto musical variava com Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Zezé de Camargo e Mariano e alguma de forró do velho Luís Gonzaga.

Quando já tinha tomado um bocado de cachaça, ele gritou pedindo um tira-gosto de bucho, para a mulher que tinha ido olhar as panelas no fogão. De longe ela gritou que não tinha preparado o bucho, pois estava cansada. Aquilo soou como uma bomba no ouvido dele. Ainda gritou que só tinha uma galinha assada, que não poderia ser cortada antes do almoço. Neste instante o homem virou bicho do mato. Furioso e aos berros, o homem parecia possesso do cramunhão² e a xingava de miserável e tudo quanto era nome feio e a chamava de filha duma vaca magra. Mas ela nem ligava e cantarolava junto com a vitrolinha, o que o deixava ainda mais furioso no terreiro.

Assim bêbado e furioso ele ameaçou para a mulher:

- Sua vaca não pense que você ainda fazer tira-gosto para seus pariceiros³, pois eu te arrebento e levo o fato, a tripa e o bucho e jogo tudo no riacho para os peixes, sua filha de uma peste.

Neste instante um vizinho que ouvia tudo, imaginou que o homem mataria a mulher e arrancaria seu bucho e assim, invadiu a casa pela cerca que os separava, chegando à cena da briga com respiração ofegante, muito assustado. Foi então que ele caiu numa gargalhada ao ver seus vizinhos num estica e puxa disputando uma bacia cheia de fato, tripas, com já com um cheiro nada agradável e saiu de fininho pedindo desculpas.

Toninho.

27/09/2013

Notas

¹ Buchada: Bucho, fato, tripa: diz-se do estomago do mamífero no caso bovino.

² Cramunhão: Satanás, diabo, capeta. Belzebu. O coisa ruim.

³ Pariceiro: Corruptela de "parceiro", porém usada em sentido pejorativo, termo usado mais pelo nordeste.

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 16/10/2013
Código do texto: T4527448
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.